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Problemas de Pele em Cães: 7 causas comuns

Problemas de Pele em Cães: 7 causas comuns

Problemas de Pele em Cães: 7 causas comuns

🐾 Pele em Fogo: Desvendando as 7 Causas Mais Comuns de Problemas de Pele em Cães

E aí, turma da Clínica Médica! Vamos encarar um dos maiores dilemas do consultório: a dermatologia canina. Eu costumo brincar que a pele do cão é como o espelho da sua saúde interna. Quando algo não vai bem, seja uma pulga, uma alergia ou um desequilíbrio hormonal, o primeiro lugar a gritar é a pele, manifestando-se como prurido (coceira), vermelhidão (eritema) e perda de pelo (alopecia).

Entender as sete causas mais comuns não é apenas memorizar uma lista. É criar um fluxograma de diagnóstico na sua cabeça. Quase todos os problemas de pele começam com a coceira, mas o que a distingue? É o padrão sazonal? É a localização no corpo? É a presença de parasitas? A sua missão é ser o detetive que descarta as causas mais simples (parasitas) até chegar nas mais complexas (alergias e hormonais). O sucesso no tratamento da pele depende de acertar o diagnóstico primário, porque tratar a infecção secundária (bactérias ou fungos) sem resolver a causa raiz é como cobrir um vazamento de água com um adesivo: a sujeira volta sempre. Vamos mergulhar nas sete etiologias que mais lotam as nossas agendas.


🦠 Invasores e Hipersensibilidades: Os Agentes Externos

Três das causas mais frequentes e urgentes de problemas de pele são aquelas que envolvem o ataque de parasitas ou a reação exagerada do sistema imune a eles. É o que chamamos de Dermatopatias Parasitárias e Alérgicas.

1. 🦟 Dermatite Alérgica à Picada de Ectoparasitas (DAPE)

Eu já cansei de ver colega ignorar uma pulga. A DAPE (popularmente alergia a picada de pulga) é, em muitas regiões, a causa mais comum de dermatite canina. Não se trata de uma infestação massiva de pulgas; o problema é a hipersensibilidade à saliva da pulga. Uma única picada pode desencadear uma reação alérgica intensa que dura dias.

O cão alérgico reage com um prurido frenético nas regiões lombar (próximo ao rabo), cauda e face interna das coxas. O sintoma clássico é a alopecia e crostas na base da cauda, causadas pela automutilação (morder e lamber). É crucial que você comunique ao tutor que, se o cão tem DAPE, a prevenção contra pulgas precisa ser total e ininterrupta. A pulga deve morrer em poucas horas, antes que tenha tempo de picar. A ausência de pulgas visíveis não descarta a DAPE, pois o ambiente ainda pode estar contaminado e o efeito de uma única picada é devastador.

O tratamento da DAPE envolve duas frentes: o controle da alergia (com anti-inflamatórios ou imunomoduladores) e o controle rigoroso de pulgas e carrapatos no cão e no ambiente. Não aceite desculpas: o tutor deve usar um produto de alta eficácia, como as Isoxazolinas orais, para quebrar esse ciclo de reação alérgica.

2. 🔥 Sarna (Escabiose e Demodiciose)

A Sarna é causada por ácaros, e as duas principais formas que você encontrará são a Sarcóptica e a Demodécica.

A Sarna Sarcóptica (Sarcoptes scabiei) é a “sarna do desespero”. É altamente contagiosa (inclusive para humanos, sendo uma zoonose autolimitante) e causa um prurido desproporcional à lesão. Os ácaros escavam túneis na pele, causando uma reação alérgica intensa. As lesões costumam aparecer nas margens das orelhas, cotovelos e jarretes, com crostas e escoriações. A sua suspeita clínica deve ser altíssima, mesmo que o raspado de pele seja negativo, pois o Sarcoptes é difícil de encontrar.

A Sarna Demodécica (Demodex canis), ou “sarna negra”, é diferente: não é contagiosa. Ela é um reflexo de uma imunidade baixa, que permite a multiplicação descontrolada de ácaros que já vivem na pele do cão. Manifesta-se com alopecia bem delimitada, especialmente ao redor dos olhos e focinho. O prurido só é intenso se houver infecção bacteriana secundária. O tratamento da sarna hoje é rápido e eficaz com os novos acaricidas sistêmicos, mas na Demodécica, a sua missão é investigar a causa da imunossupressão (como hipotireoidismo ou uso de corticosteroides).

3. 🌿 Dermatite Atópica Canina (DAC)

A DAC é a “rainha” das dermatites. É uma doença inflamatória e pruriginosa crônica, com forte caráter genético e hereditário. O cão atópico desenvolve uma hipersensibilidade a alérgenos ambientais que são inalados ou entram em contato com a pele, como ácaros da poeira, pólen de plantas, esporos de mofo, etc.

A DAC se manifesta tipicamente entre 6 meses e 3 anos de idade, e a coceira é geralmente sazonal no início (piorando na primavera/verão) e se torna perene (o ano todo) com a cronicidade. As áreas de eleição para o prurido e as lesões são as patas (lambedura e inflamação interdigital), axilas, virilhas e, crucialmente, as orelhas (otite recorrente). A DAC causa um defeito na barreira cutânea do cão, tornando a pele mais permeável e suscetível à entrada de alérgenos e à infecção por bactérias e leveduras (Malassezia).

O diagnóstico da DAC é feito por exclusão: primeiro, descartamos parasitas (pulgas, sarna), depois alergia alimentar (com um teste de dieta de eliminação) e só então fechamos o diagnóstico de atopia. A DAC não tem cura, mas tem manejo, que envolve imunomoduladores de ponta, anti-histamínicos, suplementos (Ômega-3) e terapias tópicas para restaurar a barreira cutânea.


🦠 Oportunistas e Fungos: Infecções Secundárias

Os problemas de pele raramente param na causa primária. O ato de coçar e lamber a pele lesionada quebra a barreira cutânea, permitindo que organismos que vivem naturalmente na pele se multipliquem de forma oportunista.

4. 🍄 Malasseziose (Dermatite por Leveduras)

A Malasseziose é uma infecção causada pela levedura (fungo) Malassezia pachydermatis, que é um habitante normal da pele e do ouvido do cão. A levedura só causa doença quando há um desequilíbrio no microambiente da pele, geralmente provocado por uma causa base como a DAC, alergia alimentar, ou problemas hormonais.

O sintoma mais marcante é o odor forte, rançoso e sebáceo que o cão exala. A pele fica oleosa, espessada (liquenificação) e hiperpigmentada (escura, a sarna negra de levedura). As áreas mais afetadas são as dobras de pele, a face interna das orelhas e as patas. O diagnóstico é fácil, feito por citologia (coleta de material com fita adesiva ou swab e observação ao microscópio), onde você verá as leveduras com seu formato clássico de “amendoim” ou “pegada”.

O tratamento envolve antifúngicos tópicos (shampoos com cetoconazol ou miconazol) e, em casos graves, antifúngicos orais. Mas, atenção: se você não tratar o problema de fundo (a DAC ou o hipotireoidismo), a Malassezia voltará sempre.

5. 🦠 Piodermite (Infecção Bacteriana)

A Piodermite é uma infecção bacteriana da pele, geralmente causada pela bactéria Staphylococcus pseudintermedius. Quase sempre é uma infecção secundária, que surge após a pele ter sido danificada por uma alergia, um trauma ou um parasita.

As lesões típicas da piodermite são pústulas (pequenas bolhas com pus, semelhantes à acne), crostas e colarinhos epidérmicos (lesões circulares com descamação). A piodermite pode ser superficial (mais comum e fácil de tratar com antibióticos orais e tópicos) ou profunda (mais grave, exigindo culturas e antibiogramas para escolher o antibiótico correto).

É fundamental que você não use antibióticos de forma indiscriminada. A piodermite está cada vez mais resistente. Você precisa tratar com a dose e o tempo correto (geralmente 3 a 4 semanas) e, novamente, resolver a causa primária que permitiu a entrada e a multiplicação das bactérias.


hormonal e Metabólico: O Desequilíbrio Interno

Quando a coceira não é a principal queixa, mas a perda de pelo simétrica e as alterações na textura da pele, você deve pensar em Dermatopatias Endócrinas e Nutricionais.

6. 🍎 Alergia Alimentar

A alergia alimentar é, assim como a DAC, uma hipersensibilidade, mas a alérgeno é uma proteína na dieta (geralmente carne bovina, frango, laticínios ou trigo).

Diferentemente da DAC (que tem mais lesões nas patas e axilas), a alergia alimentar causa prurido não sazonal (o ano todo) e pode se manifestar com sinais gastrointestinais (vômitos ou diarreia), mas nem sempre. A principal diferença é a localização: o prurido é muitas vezes perianal e no focinho.

O diagnóstico da alergia alimentar é feito apenas pelo teste de eliminação dietética: o cão é colocado em uma dieta rigorosa com uma proteína nova (que ele nunca comeu, como carne de cordeiro, peixe ou hidrolisada) por 8 a 12 semanas. Se os sintomas de pele resolverem, a alergia alimentar é confirmada. Não confie em testes de sangue para alergia alimentar; a dieta de eliminação é o único padrão ouro.

7. ⚖️ Desordens Hormonais (Hipotireoidismo e Hiperadrenocorticismo)

Quando a causa da dermatopatia está na fábrica de hormônios, os sinais de pele mudam. A queixa principal não é a coceira, mas a perda de pelo e a alteração na qualidade da pele.

O Hipotireoidismo (baixa produção de hormônio tireoidiano) causa alopecia bilateral e simétrica (sem coceira) no tronco, cauda (cauda de rato) e pescoço. A pele fica espessada, escamosa e fria ao toque.

O Hiperadrenocorticismo (Síndrome de Cushing, excesso de cortisol) causa alopecia bilateral simétrica, pele fina e com pouca elasticidade, abdômen pendular e, muitas vezes, calcinose cutânea (depósitos de cálcio na pele).

Nestes casos, o tratamento não é na pele, mas no desequilíbrio hormonal (suplementação de hormônio tireoidiano ou tratamento para Cushing), e a pele se recupera lentamente. Você precisa estar atento aos sinais sistêmicos (aumento da ingestão de água e urina, ganho de peso) que acompanham essas doenças.


📚 A Abordagem de 3 Etapas: Do Sintoma à Solução

Para fechar nossa discussão, o seu trabalho na dermatologia se resume a uma abordagem disciplinada de três passos:

  1. Eliminação da Causa Primária: Descarte as causas mais fáceis (pulgas, sarna) primeiro. Se não for parasita, vá para as alergias (DAPE, alimentar, DAC) e depois para as hormonais.
  2. Controle das Infecções Secundárias: Trate a Piodermite e a Malasseziose com antibióticos e antifúngicos (tópicos e/ou sistêmicos) específicos, confirmados por citologia e cultura, quando necessário.
  3. Restauração da Barreira Cutânea: Use a terapia tópica (shampoos, spot-ons, mousses) e suplementos (Ômega-3, ceramidas) para acalmar a pele, hidratá-la e restaurar a sua função protetora, reduzindo a suscetibilidade a novas infecções.

Essa abordagem sistemática é a diferença entre ser um clínico que trata a pele com sucesso e um que está sempre lutando contra recidivas. Seja o professor que guia o tutor para a saúde da pele do seu paciente.


🧪 Quadro Comparativo de Testes Diagnósticos de Dermatopatias

Para ilustrar como você usa a ciência para diferenciar as causas, aqui está um quadro com os testes mais importantes que guiam seu diagnóstico:

CaracterísticaRaspado de PeleCitologiaTeste de Eliminação Dietética
ObjetivoConfirmar a presença de ácaros (Sarcoptes, Demodex).Identificar agentes infecciosos (bactérias, Malassezia).Diagnosticar Alergia Alimentar (exclusão de DAC).
Material ColetadoCélulas da epiderme e exsudato folicular (com óleo mineral).Exsudato, secreção de pústulas ou fita adesiva (tape).Dieta com proteína única/hidrolisada (por 8-12 semanas).
Doença TípicaSarna Sarcóptica e Demodécica.Piodermite, Malasseziose, Otite.Alergia Alimentar.
Vantagens-chaveRápido, barato, e confirmatório para ácaros (exceto Sarcoptes).Rápido e crucial para guiar o tratamento de infecção secundária.Padrão Ouro para distinguir alergia alimentar de ambiental.
Limitações/CuidadosPode ser Falso Negativo (principalmente para Sarcoptes).Não identifica a causa primária (é o resultado da causa base).Exige rigor total do tutor (nenhum petisco ou alimento fora da dieta).
Uso IdealPrimeiro passo em qualquer caso de prurido ou alopecia.Essencial para monitorar o tratamento de infecções oportunistas.Usado após a exclusão total de parasitas e DAPE.

Você precisa fazer o tutor entender que o diagnóstico dermatológico não é mágica; é uma ciência baseada em etapas.

Para entender melhor sobre a fisiopatologia e o diagnóstico da Dermatite Atópica Canina (DAC), assista a este vídeo: MÉTODOS DIAGNÓSTICOS PARA DAC. Este material de estudo foca nos desafios diagnósticos e na exclusão de outras patologias alérgicas, como a DAPE e a hipersensibilidade alimentar, o que é fundamental para o seu sucesso na clínica dermatológica.

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