Cachorro vomitando: 5 causas comuns
🤢 Cachorro Vomitando: As 5 Causas Comuns, o Alarme de Obstrução e o Protocolo de Ação Rápida
Prezado aluno, a cena é sempre a mesma: o som de “engasgo”, a ânsia, e o vômito. É um momento de aflição, eu sei. Mas, como clínicos, nós vemos o vômito como um reflexo de defesa crucial. É o corpo do seu cão dizendo, de forma violenta, que algo está errado no estômago, no intestino ou, em alguns casos, no próprio sistema circulatório ou nervoso. Seu papel aqui é fundamental: você precisa ser um observador calmo e preciso, capaz de diferenciar o “engasgo com grama” de uma emergência grave como a obstrução intestinal.
O vômito não é uma doença, mas um sintoma, e o sucesso do nosso tratamento depende da sua capacidade de nos dizer a frequência, a cor, a consistência e, o mais importante, o que o seu cão fez antes do episódio. Vamos juntos desvendar as cinco causas mais comuns e aprender o Protocolo de Ação Imediata para garantir a segurança do seu companheiro.
I. Introdução: O Reflexo de Defesa e a Diferença Vital
O ato de vomitar é mais complexo do que parece. É um reflexo mediado por um centro nervoso no cérebro (Centro do Vômito) que, quando estimulado, coordena os músculos abdominais e o diafragma para expulsar o conteúdo gástrico.
O Vômito como Mecanismo de Defesa: Expulsando irritantes ou toxinas.
Na maioria das vezes, o vômito é uma resposta imediata a uma irritação aguda do estômago (gastrite) ou à ingestão de substâncias indesejadas ou tóxicas. Ao vomitar, o cão se livra de algo que poderia causar danos maiores se chegasse ao intestino.
A irritação pode ser causada por algo que ele comeu (lixo, osso, grama) ou pelo próprio ácido gástrico em excesso. É um mecanismo de autolimpeza. A questão é que, quando o vômito se torna persistente, ele deixa de ser um mecanismo de defesa e se torna uma causa de desidratação e desequilíbrio metabólico, colocando a vida do seu cão em risco.
Vômito vs. Regurgitação: A diferença entre um problema gástrico e um esofágico.
É crucial que você saiba a diferença entre vômito e regurgitação, pois as causas e os tratamentos são totalmente distintos.
- Regurgitação: É um ato passivo e sem esforço. O cão expele o alimento não digerido, muitas vezes em formato de “tubo”, logo após a alimentação. Isso indica um problema no esôfago (o tubo que leva a comida à boca ao estômago), como o Megaesôfago (dilatação do esôfago) ou uma obstrução esofágica.
- Vômito: É um ato ativo e com esforço. Você verá o cão ter ânsia de vômito e contrações abdominais visíveis antes de expelir a comida digerida (ou parcialmente digerida). Isso indica um problema no estômago ou no intestino. Se você não tem certeza, pergunte-se: houve esforço? Se sim, é vômito.
A Regra do Vômito: Persistência é a principal bandeira vermelha.
Se seu cão vomitou uma única vez, está alerta, não vomitou novamente e tem as gengivas rosadas, você tem uma situação de baixa emergência. Ele provavelmente se livrou do problema.
No entanto, o vômito persistente – aquele que ocorre repetidamente ao longo de horas ou dias, ou que impede o cão de reter água – é a nossa principal bandeira vermelha. A persistência significa que a causa ainda está lá (uma obstrução, uma infecção grave ou uma irritação contínua) e que o risco de desidratação e choque está aumentando a cada episódio.
II. As 5 Causas Comuns de Irritação Gástrica
A maioria dos episódios de vômito que vemos no consultório é autoinfligida ou decorrente de um pequeno descuido.
1. Gastrite Aguda Simples: Imprudência alimentar (lixo, grama, gordura) e o vômito de bile/espuma.
A causa número um é a Gastrite Aguda – a inflamação súbita do revestimento do estômago. Isso ocorre quando o cão ingere algo que irrita a mucosa:
- Lixo: Bactérias, alimentos estragados ou ossos.
- Gordura: Comida de gente, como sobras de churrasco, que causam inflamação intensa e, frequentemente, diarreia junto.
- Grama/Folhas: O cão come grama como um ato reflexo para provocar o vômito, geralmente quando está com náuseas.
O vômito costuma ser de espuma branca (saliva e muco) ou bile amarela (o líquido amarelado que vem do intestino, quando o estômago está vazio).
2. Vômito Bilioso Matinal: O jejum prolongado e o acúmulo de ácido gástrico.
Este é um tipo de vômito muito específico e fácil de resolver. Ocorre em cães que ficam longos períodos em jejum (por exemplo, das 20h às 8h da manhã). O estômago vazio continua a secretar ácido gástrico e bile. O acúmulo desse ácido irrita a mucosa e o centro do vômito, levando ao vômito matinal de bile amarela ou amarelada.
A solução é simples: fracionar a dieta. Dê ao seu cão uma pequena porção da ração ou um petisco seguro antes de dormir (a última refeição deve ser mais tarde) ou logo ao acordar. Isso dá ao estômago algo para trabalhar, absorvendo o ácido.
3. Parasitas e Verminose: A irritação da mucosa por Giardíase, Ascarídeos e Ancilóstomos.
Embora a verminose seja mais conhecida por causar diarreia, uma carga parasitária alta pode irritar o estômago e o intestino delgado, levando ao vômito, especialmente em filhotes ou cães que não são vermifugados regularmente.
Os Ascarídeos (vermes redondos) podem, em grande quantidade, ser visíveis no vômito. A Giardíase é um protozoário que causa diarreia crônica e também pode causar náuseas e vômitos esporádicos. Se você tem um cão jovem ou um cão que ingere fezes ou água suja, o vômito é um sinal de que o controle parasitário precisa ser revisado.
4. Alergia e Intolerância Alimentar: A rejeição do organismo a ingredientes da dieta.
O vômito pode ser uma manifestação de intolerância ou alergia alimentar a um ingrediente específico, como uma proteína (frango, carne bovina) ou um carboidrato. O corpo do cão rejeita o ingrediente, inflamando o estômago e causando vômitos.
Se o vômito é crônico (ocorre com frequência, mas não é grave), e você não consegue identificar uma causa aguda, a alergia alimentar é uma suspeita forte. Nesses casos, a investigação se dá através de uma dieta de eliminação ou do uso de proteínas hidrolisadas, para acalmar a reação imunológica do trato gastrointestinal.
5. Fatores Emocionais: Estresse e Ansiedade (Viagens, Mudanças, Separação).
O cérebro e o intestino estão intimamente ligados pelo eixo intestino-cérebro. Emoções fortes, como ansiedade de separação, medo (fogos de artifício) ou estresse de viagem (cinetose), podem estimular o centro do vômito e causar náuseas ou vômitos.
O vômito de estresse é geralmente esporádico e acompanha o evento emocional. Se o seu cão vomita apenas no carro ou quando está sozinho, o tratamento é comportamental, focado em dessensibilização ou, em casos graves, no uso de ansiolíticos prescritos para controlar a reação do corpo ao estresse.
III. Sinais de Alerta: Quando o Vômito se Torna uma Emergência
Estes sinais não podem ser ignorados. Eles indicam que o problema é mecânico, hemorrágico ou de falha orgânica grave.
O Vômito em Jato e a Obstrução Intestinal: Corpo estranho e o risco de perfuração ou necrose.
O vômito em projétil (em jato), que é forçado e explosivo, é um sinal clássico de obstrução intestinal. Isso ocorre quando um corpo estranho (meia, pedra, pedaço de brinquedo) fica preso no estômago ou no intestino delgado. O vômito não alivia a náusea e persiste porque o conteúdo não consegue passar.
A obstrução é uma emergência cirúrgica porque o corpo estranho pode bloquear a circulação sanguínea na parede do intestino (levando à necrose e morte do tecido) ou causar uma perfuração intestinal. Se você tem a suspeita de ingestão de corpo estranho e o vômito é persistente, não perca tempo esperando: a radiografia imediata salva o intestino do seu cão.
Hematêmese (Sangue no Vômito): Sangue vivo ou borra de café – Sinais de úlcera ou coagulopatia.
A presença de sangue no vômito (Hematêmese) é um sinal de que houve uma lesão na mucosa gástrica ou esofágica que está sangrando.
- Sangue Vermelho Vivo: Sugere uma hemorragia recente e ativa no estômago ou no esôfago.
- Borra de Café (Marrom Escuro): Indica que o sangue foi parcialmente digerido pelo ácido gástrico.
Ambos são sinais de úlcera gástrica grave, gastrite hemorrágica ou, em casos raros, problemas de coagulação (coagulopatias). A perda de sangue e o risco de perfuração exigem intervenção clínica imediata, geralmente com protetores gástricos injetáveis e fluidoterapia.
A Falha Sistêmica: Vômito acompanhado de Febre, Icterícia ou Prostração.
O vômito que acompanha outros sinais sistêmicos (fora do trato gastrointestinal) indica que a causa é uma doença grave que afeta o organismo inteiro.
- Febre e Prostração: Suspeita de infecção grave (ex: Pancreatite, Peritonite ou Parvovirose).
- Icterícia (Mucosas Amareladas): Indica um problema grave no fígado (hepatite ou falha biliar).
- Convulsões ou Desorientação: Sugere toxinas agindo no sistema nervoso ou uma encefalopatia hepática.
Nesses casos, o vômito é apenas a ponta do iceberg de uma falha orgânica que exige estabilização no hospital.
IV. Protocolo de Ação Imediata (As Primeiras 12 Horas)
Se o seu cão vomitou uma ou duas vezes, mas está alerta, sem sangue e consegue reter água, siga nosso protocolo de manejo em casa.
Jejum Alimentar Rígido: Dando tempo para o estômago desinflamar (exceto filhotes).
Assim como na diarreia, o estômago precisa descansar. A ingestão de alimentos estimula a secreção de ácido gástrico e a motilidade, o que irrita ainda mais a mucosa inflamada.
Recomendamos um jejum total de alimentos sólidos de 12 a 24 horas para cães adultos saudáveis. O jejum dá tempo para a mucosa gástrica se regenerar. Importante: Não faça jejum em filhotes ou cães diabéticos; nesses casos, a alimentação deve ser mantida, mas em porções mínimas e em dieta super leve.
Hidratação Controlada e Antieméticos: Água em pequenas doses e o uso de protetores gástricos.
Se o cão consegue beber, a hidratação é vital. Não o deixe beber água em grandes volumes de uma vez, pois isso distende o estômago e provoca um novo vômito.
Ofereça pequenas quantidades de água (cubos de gelo ou 1/4 de xícara) a cada 15-20 minutos. Se o vômito cessar e você conseguir reter a água, o veterinário pode prescrever um antiemético (como o Maropitant) para acalmar o centro do vômito e um protetor gástrico (como o Omeprazol ou Sucralfato) para proteger a mucosa do ácido.
A Reintrodução Terapêutica: Dieta leve e altamente digestível (Frango/Arroz) em porções mínimas.
Após o jejum e se o vômito cessou, você pode começar a reintroduzir a comida. Use a dieta de resgate: peito de frango cozido (sem pele e desfiado) misturado com arroz branco cozido (sem tempero, sem sal, sem gordura).
Sirva em porções mínimas (cerca de 1/4 da porção normal) e muito frequentes (3 a 4 vezes ao dia). O objetivo é não deixar o estômago vazio, mas também não distendê-lo. Se o cão tolerar essa dieta por 24 a 48 horas, você pode começar a misturar a ração normal de forma gradual.
V. O Vômito como Alarme de Doença Sistêmica
O vômito pode ser a manifestação de um problema que está muito longe do estômago, mas que afeta o corpo inteiro.
Insuficiência Renal (Uremia): O acúmulo de toxinas irritando o centro do vômito no cérebro.
A Insuficiência Renal é um grande gatilho para o vômito crônico. Quando os rins falham em filtrar o sangue, as toxinas (principalmente a ureia) se acumulam (condição chamada uremia).
A ureia não só irrita o revestimento do estômago, mas também atua diretamente no Centro do Vômito no cérebro. Por isso, cães com Doença Renal Crônica (DRC) têm náuseas e vômitos persistentes. Se o vômito se torna frequente em um cão idoso, sem causa alimentar, a falha renal é a primeira suspeita e exige exame de sangue imediato.
Cetoacidose Diabética: O descontrole metabólico e o vômito associado à fraqueza e PU/PD.
Em cães diabéticos, o vômito pode ser um sintoma de Cetoacidose Diabética (CAD), uma complicação grave e potencialmente fatal do diabetes não controlado.
Quando não há insulina suficiente, o corpo queima gordura para obter energia, produzindo cetonas que acidificam o sangue. Essa acidose metabólica causa náuseas e vômitos. O vômito de CAD é acompanhado de sinais clássicos de diabetes: aumento da sede/micção (PU/PD), perda de peso e hálito com cheiro adocicado/frutado (devido às cetonas). Isso é uma emergência metabólica.
Pancreatite Aguda: A inflamação fatal do pâncreas e a dor abdominal intensa com vômitos.
A Pancreatite Aguda (inflamação súbita do pâncreas) é uma emergência gastroenterológica grave, frequentemente desencadeada pela ingestão de alimentos gordurosos. O pâncreas inflamado vaza enzimas digestivas que danificam o próprio órgão e os tecidos circundantes.
O sintoma clássico da pancreatite é o vômito persistente, dor abdominal intensa (o cão pode se curvar em “posição de oração”) e prostração. O diagnóstico exige exames de sangue específicos (como a lipase pancreática canina específica – cPLI). O tratamento é intensivo, focado em fluidoterapia e controle da dor e vômito.
VI. O Papel do Diagnóstico por Imagem e Laboratório
Quando o vômito é persistente ou complicado, sua observação passa para a nossa tecnologia de diagnóstico.
Radiografia Simples e Contraste: O mapa do corpo estranho e a avaliação da motilidade intestinal.
Em casos de suspeita de obstrução, a Radiografia (Raio-X) é o primeiro passo. Ela pode confirmar a presença de corpos estranhos radiopacos (ossos, pedras).
Se a radiografia simples não for conclusiva, utilizamos a Radiografia com Contraste (Bário). O contraste é dado ao cão, e ele é acompanhado por várias horas. Se o contraste parar em algum ponto do estômago ou intestino, confirmamos a obstrução e a cirurgia é inevitável.
Ultrassom e a Parede Gástrica: Identificando inflamação, espessamento ou massas tumorais.
O Ultrassom abdominal é uma ferramenta crucial para vômitos crônicos. Ele nos permite visualizar a espessura da parede do estômago e do intestino, procurando por inflamação (gastrite ou enterite), e para procurar por massas tumorais ou corpos estranhos não radiopacos (como tecidos e plásticos).
O ultrassom também avalia o pâncreas (suspeita de pancreatite) e outros órgãos vitais. Ele é essencial para determinar a gravidade da inflamação e a melhor abordagem terapêutica.
Exames de Sangue (Bioquímica e Hemograma): Avaliando eletrólitos, rins e fígado (Causas Sistêmicas).
O Exame de Sangue (Bioquímica sérica e Hemograma) é indispensável em vômitos persistentes. Ele nos dá pistas sobre a origem sistêmica do problema:
- Bioquímica: Níveis elevados de Ureia e Creatinina sugerem a Falha Renal. Níveis elevados de enzimas hepáticas (ALT/AST) sugerem problema no Fígado.
- Eletrólitos: A desidratação e o vômito causam desequilíbrio de sódio e potássio.
- Hemograma: Indicadores de infecção (aumento de neutrófilos) ou anemia (perda de sangue).
O sangue é o mapa que nos guia para o diagnóstico sistêmico e para a terapia de suporte necessária (fluidoterapia e correção de eletrólitos).
VII. Conclusão: Vigilância e Ação Imediata
O vômito é um sintoma comum, mas nunca trivial. Seu cão está contando com a sua calma e discernimento para guiá-lo.
O poder da observação para diferenciar a causa.
Seu primeiro dever é a observação atenta: o vômito é único ou persistente? Contém sangue? O cão está alerta ou prostrado? Com essa informação, você ajuda o veterinário a traçar o diagnóstico mais rapidamente.
A regra de ouro: Vômito persistente exige intervenção imediata.
Lembre-se da regra de ouro: Vômito persistente por mais de 12 horas, vômito com sangue ou vômito acompanhado de letargia, febre ou dor abdominal, é uma emergência. Nesses casos, o jejum e a água controlada são o seu protocolo de viagem para o hospital.
Quadro Comparativo: Intervenções no Vômito Agudo
Aqui está um quadro que compara as três principais intervenções em caso de vômito agudo não complicado, e o que evitar.
| Intervenção | Tipo de Tratamento | Objetivo Primário | Produto/Abordagem a Evitar |
| Jejum de 12-24 horas | Manejo de Rotina | Descansar e desinflamar a mucosa gástrica. | Comida Sólida: Estimula a secreção ácida e a irritação. |
| Hidratação em Pequenas Doses | Suporte Eletrolítico | Prevenir a Desidratação e o choque. | Grande Volume de Água de Uma Vez: Causa distensão gástrica e novo vômito. |
| Antieméticos (Maropitant) | Farmacológico (Prescrito) | Bloquear o Centro do Vômito no cérebro e permitir a reintrodução da água. | Medicamentos Humanos (Antieméticos/Antidiarréicos): Podem ser tóxicos ou mascarar a obstrução. |
Gostaria que eu fizesse uma pesquisa sobre os sinais de obstrução intestinal em cães e os riscos cirúrgicos associados à remoção de corpos estranhos?




Post Comment