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Doença do Carrapato: Tudo que você precisa saber

Doença do Carrapato: Tudo que você precisa saber

Doença do Carrapato: Tudo que você precisa saber

🩸 Doença do Carrapato: Desvendando a “Tristeza Parasitária” no Paciente Canino

E aí, futuros e atuais colegas da clínica de pequenos! Vamos encarar um dos problemas mais recorrentes e, francamente, mais traiçoeiros que a gente encontra no nosso dia a dia: a famosa Doença do Carrapato. Eu sei que o nome é genérico e até meio popular, mas ele engloba um complexo de doenças causadas por parasitas sanguíneos, os chamados hemoparasitas, transmitidos pela picada do carrapato. No Brasil, quando falamos “Doença do Carrapato”, estamos nos referindo principalmente a duas vilãs: a Erliquiose (causada pela bactéria Ehrlichia canis) e a Babesiose (causada pelo protozoário do gênero Babesia).

A grande ironia dessa doença é que ela é totalmente prevenível, mas ainda é uma das maiores causas de emergências e óbitos na clínica veterinária. O carrapato, o Rhipicephalus sanguineus (o carrapato marrom do cão), é o principal vetor dessas patologias, e ele tem uma capacidade impressionante de se adaptar e se proliferar no ambiente domiciliar. Pense no carrapato como uma pequena agulha contaminada: ele pica o cão, se alimenta do sangue e, no processo, injeta os parasitas na circulação do seu paciente. É um mecanismo eficiente e silencioso de transmissão, que transforma uma simples infestação em uma ameaça sistêmica grave.

Como profissionais de saúde animal, você precisa ver a doença do carrapato não apenas como uma infecção, mas como uma síndrome hematológica complexa. A Ehrlichia tem uma predileção por atacar os glóbulos brancos, as células de defesa, e as plaquetas, responsáveis pela coagulação. Já a Babesia tem como alvo os glóbulos vermelhos, as hemácias, levando à sua destruição (hemólise). Esse ataque duplo ou isolado ao sistema sanguíneo é o que gera o quadro clínico devastador que a gente conhece. A gente não está tratando só de uma febre ou apatia; estamos tratando de um desequilíbrio profundo que exige uma intervenção rápida e assertiva.


🦠 As Duas Faces da Moeda: Erliquiose e Babesiose

Para você ter um diagnóstico e manejo de sucesso, é fundamental entender que a “Doença do Carrapato” não é uma coisa só. São dois problemas principais, com alvos e consequências ligeiramente diferentes. Conhecer a fisiopatologia de cada uma delas permite que você faça um diagnóstico mais preciso e defina o melhor protocolo terapêutico para o seu paciente. Lembre-se, o hemograma é o nosso principal campo de batalha para desvendar qual dos parasitas está causando o estrago.

🔬 Erliquiose Canina: A Ladra Silenciosa das Plaquetas

A Erliquiose é a mais comum das hemoparasitoses transmitidas por carrapatos, causada pela bactéria intracelular obrigatória Ehrlichia canis. Quando a Ehrlichia é inoculada na corrente sanguínea do cão, ela se aloja e se multiplica dentro dos monócitos e linfócitos (tipos de glóbulos brancos) e, crucialmente, nas células precursoras da medula óssea. Essa predileção pelas células de defesa e pela maquinaria produtora de células sanguíneas é a chave para os sinais clínicos.

A doença é classicamente dividida em três fases. A fase aguda ocorre cerca de uma a três semanas após a picada e se manifesta com sinais inespecíficos: febre, apatia, perda de apetite (anorexia) e linfadenomegalia (aumento dos gânglios). O hemograma, nesta fase, frequentemente revela a trombocitopenia (queda no número de plaquetas). Essa queda é o que nos dá o grande alerta. A fase aguda pode se resolver sozinha em cães com sistema imune forte, ou progredir para a fase subclínica, onde o cão não apresenta sintomas, mas o parasita está lá, quietinho, se multiplicando e causando um dano lento e progressivo, por meses ou até anos.

A fase mais temida é a fase crônica. Aqui, o ataque à medula óssea é severo, resultando em pancitopenia (queda nos glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas). O cão manifesta sinais graves de anemia, debilidade extrema e, o mais perigoso, hemorragias espontâneas devido à trombocitopenia acentuada. Sangramentos nasais (epistaxe), petéquias (pontos vermelhos na pele ou mucosas) e hematomas são achados comuns. Muitos dos pacientes que chegam à emergência com necessidade de transfusão estão na fase crônica da Erliquiose.

🦠 Babesiose Canina: A Ameaça de Destruição das Hemácias

A Babesiose, causada pelo protozoário do gênero Babesia (principalmente Babesia canis e Babesia vogeli), tem um mecanismo de ação diferente, focado na destruição dos glóbulos vermelhos. Após a picada do carrapato, o parasita entra na circulação e invade as hemácias, onde se multiplica. Essa multiplicação leva ao rompimento das hemácias, um processo chamado hemólise. É um ataque direto à capacidade do sangue de transportar oxigênio.

O sintoma cardeal da Babesiose é a anemia hemolítica. O cão fica pálido, com as mucosas esbranquiçadas, e pode apresentar icterícia (coloração amarelada nas mucosas, olhos e pele) devido ao excesso de bilirrubina liberada pela destruição maciça das hemácias. A urina pode ficar escura, com um aspecto de coca-cola, devido à presença de hemoglobina liberada na hemólise (hemoglobinúria). Diferente da Erliquiose, a Babesiose tende a ter um curso mais agudo e dramático.

O diagnóstico de Babesiose, muitas vezes, é feito pela visualização direta do parasita dentro das hemácias em um esfregaço sanguíneo. No entanto, mesmo que o quadro seja agudo, a Babesiose também pode ter um curso crônico e levar a complicações sérias como a insuficiência renal aguda (devido ao dano causado pelos produtos da hemólise) e problemas neurológicos em casos mais graves. É por isso que, quando temos um paciente com anemia de início agudo e histórico de exposição a carrapatos, a Babesiose deve ser a primeira a ser investigada com urgência.


🤒 As Fases Clínicas e os Sinais de Alerta no Consultório

A Doença do Carrapato, em suas múltiplas formas, não é uma enfermidade linear. Ela se apresenta em diferentes estágios, e a capacidade do cão de lidar com a infecção está intimamente ligada ao seu estado imunológico. Você, como clínico, precisa ser capaz de reconhecer os sinais sutis de cada fase, pois o prognóstico está diretamente ligado à rapidez da sua intervenção.

⚠️ Fase Aguda: O Início da Batalha (e do Desafio)

A fase aguda é o período inicial da infecção, que geralmente dura de uma a quatro semanas após a inoculação dos parasitas. Esta fase é caracterizada por sintomas que podem facilmente ser confundidos com outras infecções, o que a torna um desafio diagnóstico. O paciente apresenta febre alta intermitente (o tutor relata que o cão está quente em alguns momentos), apatia (tristeza, sonolência) e anorexia (perda de apetite).

Os sinais mais importantes para levantar a sua suspeita são os hematológicos. A trombocitopenia (baixa de plaquetas), resultado do ataque da Ehrlichia ou do consumo de plaquetas na inflamação sistêmica, pode se manifestar com petéquias ou sangramentos leves. Se você notar o paciente com a gengiva ligeiramente pálida, febre e um histórico de exposição a carrapatos, a sua suspeita deve ser alta. A intervenção com o hemograma é crucial nesse momento. Quanto mais cedo você diagnosticar e iniciar o tratamento na fase aguda, maiores serão as chances de uma recuperação completa e rápida, antes que o quadro evolua para complicações crônicas.

Sempre pergunto ao tutor: “Seu cão tem tido menos vontade de brincar? Ele está recusando a ração que tanto ama?”. Essas perguntas simples humanizam o atendimento e nos dão insights valiosos sobre a energia e o apetite do animal, que são os primeiros a serem comprometidos. Não subestime uma febre de origem desconhecida em um cão de área endêmica.

🌑 Fase Subclínica: O Período de Silêncio Enganador

A fase subclínica é, sem dúvida, a mais perigosa, especialmente no caso da Erliquiose. Nela, o cão está infectado, o parasita está se multiplicando lentamente em órgãos como o baço, mas o animal está aparentemente normal. Você não verá febre, a apatia desaparece e o apetite volta. O tutor jura que o cão está ótimo. No entanto, o hemograma, se realizado, pode ainda mostrar uma trombocitopenia discreta e o sorológico estará positivo.

Essa fase pode durar meses ou até anos. É um período de “cessar-fogo” onde o sistema imunológico do cão está tentando manter a infecção sob controle. O risco aqui é o dano silencioso à medula óssea. A Ehrlichia continua atacando as células produtoras de sangue. Sem tratamento, qualquer estresse adicional ou doença concomitante pode derrubar o frágil equilíbrio imunológico do cão e precipitar a entrada na fase crônica, que é muito mais difícil de reverter.

A única maneira de detectar a fase subclínica é através da medicina preventiva. Você precisa educar o tutor sobre a importância do rastreamento anual com hemograma e sorologia, especialmente em cães que vivem em regiões de alta prevalência de carrapatos, mesmo que não apresentem sintomas. Esse rastreio preventivo é a sua melhor arma para evitar que um paciente aparentemente saudável se torne um paciente grave em um futuro próximo.

🚨 Fase Crônica: O Colapso Sistêmico

Se a infecção não for tratada na fase aguda ou subclínica, ela evolui para a fase crônica, onde os danos se tornam sistêmicos e muitas vezes irreversíveis. O ataque à medula óssea se agrava, levando à pancitopenia, e as consequências são dramáticas. A anemia profunda se manifesta com mucosas pálidas. A trombocitopenia severa causa hemorragias mais graves: sangramento incontrolável no nariz, sangue nas fezes (melena) ou urina (hematúria).

Além dos problemas sanguíneos, a inflamação crônica afeta outros órgãos. O cão pode desenvolver glomerulonefrite (doença renal), poliartrite (inflamação nas articulações, causando dor e dificuldade de locomoção) e problemas oculares, como a uveíte. O emagrecimento, a fraqueza muscular e o aumento de órgãos como o baço e o fígado (hepatoesplenomegalia) completam o quadro de debilidade extrema.

O tratamento na fase crônica é muito mais desafiador. Não se trata apenas de eliminar o parasita, mas de reverter o dano medular e tratar as falências orgânicas instaladas. Muitas vezes, é necessário um tratamento de suporte intensivo, com transfusões de sangue total ou plasma, internação e medicação para proteger os rins. O prognóstico na fase crônica é reservado, e a mortalidade é significativamente maior.


🔍 O Diagnóstico: As Ferramentas do Detetive Veterinário

Diagnosticar a Doença do Carrapato é um exercício de interligar a clínica, o histórico epidemiológico e os achados laboratoriais. Eu costumo dizer que a gente começa a diagnosticar no momento em que o tutor entra pela porta, mas a confirmação é sempre no laboratório.

🩸 Exames Hematológicos: O Hemograma como Ponto de Partida

O hemograma completo é o nosso melhor amigo no diagnóstico e monitoramento. Ele não diagnostica a presença do parasita por si só, mas sugere fortemente a doença e avalia sua gravidade. Os achados típicos que devem levantar a sua suspeita são:

  1. Trombocitopenia: A queda no número de plaquetas é o achado mais consistente na Erliquiose e um forte indicador de hemoparasitose.
  2. Anemia: A diminuição do número de glóbulos vermelhos ou da concentração de hemoglobina, que pode ser severa na Babesiose (anemia hemolítica).
  3. Leucopenia/Leucocitose: O número de glóbulos brancos pode estar baixo na fase crônica (leucopenia) ou aumentado na fase aguda (leucocitose), refletindo o estado da medula e a inflamação.

Além do hemograma, a bioquímica sérica (avaliando as enzimas hepáticas, ureia e creatinina) é vital para identificar o comprometimento orgânico, especialmente nos rins e no fígado, que são alvos comuns da inflamação sistêmica.

🧬 Testes Diretos e Indiretos: Confirmando o Agente Causador

Para confirmar qual é o agente (ou agentes, já que a coinfecção é comum), usamos testes mais específicos. O esfregaço sanguíneo é um teste rápido e direto. Ele consiste em examinar uma lâmina de sangue ao microscópio para tentar visualizar a Babesia dentro das hemácias ou as mórulas (aglomerados de Ehrlichia) dentro dos glóbulos brancos. Este teste é barato e rápido, mas a sensibilidade é baixa: se você não achar, não significa que a doença não está lá.

Os testes sorológicos, como o ELISA e a Imunofluorescência Indireta (IFI), procuram os anticorpos que o cão produziu contra o parasita. Um teste positivo indica que o cão teve contato com o parasita. Eles são excelentes, mas podem ser negativos na fase aguda inicial (quando o cão ainda não produziu anticorpos) ou em cães imunossuprimidos.

A técnica mais moderna e sensível é a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). A PCR detecta o material genético (DNA) do parasita. Ela é crucial para diferenciar Ehrlichia de Babesia e para diagnosticar o cão na fase subclínica ou nos casos de coinfecção. É a ferramenta que nos dá a maior certeza sobre a presença do agente infeccioso.


🩹 O Tratamento: A Jornada de Recuperação e Suporte

O tratamento da Doença do Carrapato exige mais do que apenas prescrever um medicamento. É um plano de manejo completo que envolve o antiparasitário específico, o tratamento de suporte às falências orgânicas e o controle rigoroso da infestação de carrapatos.

💊 Protocolos Específicos e a Escolha Criteriosa

O tratamento específico da Erliquiose (a infecção bacteriana) é baseado no uso de antibióticos. O medicamento de escolha é a Doxiciclina, que deve ser administrada por um período prolongado, geralmente de 21 a 28 dias. Você precisa orientar o tutor sobre a importância da aderência total ao protocolo, mesmo que o cão pareça melhorar rapidamente nos primeiros dias.

Para a Babesiose (a infecção protozoária), o tratamento é feito com um agente protozoocida injetável, como o Dipropionato de Imidocarb. Este medicamento é muito eficaz contra a Babesia, mas sua aplicação requer monitoramento devido aos seus efeitos colaterais, que podem incluir salivação excessiva e desconforto gastrointestinal. Em casos de coinfecção (Erlichiose e Babesiose juntas, o que é frequente), o protocolo envolverá a combinação da Doxiciclina com o Imidocarb. A sua experiência e o monitoramento laboratorial guiarão a escolha e a duração exata do tratamento.

💉 Tratamento de Suporte: O Pilar da Sobrevivência

Em muitos casos, o tratamento específico é apenas uma parte da solução. O tratamento de suporte é o que salva a vida do paciente grave. Se o cão estiver com uma anemia severa (geralmente com Hematócrito abaixo de 15-20%), a transfusão de sangue total ou concentrado de hemácias é emergencial. Da mesma forma, se a trombocitopenia for gravíssima e houver risco de hemorragia incontrolável, a transfusão de plaquetas pode ser necessária.

O suporte também envolve o controle da febre, a fluidoterapia intravenosa para manter a hidratação e proteger os rins, e o uso de suplementos vitamínicos (como o complexo B) para estimular a produção de novas células sanguíneas pela medula óssea. Em pacientes com comprometimento renal ou hepático, a dieta deve ser ajustada. Você precisa ser honesto com o tutor: o cão pode precisar de internação e cuidados intensivos até que a medula óssea se recupere e a contagem de células se normalize.


🛡️ Prevenção: O Controle do Carrapato como Missão Vital

Se eu pudesse dar uma única aula para vocês sobre a Doença do Carrapato, seria sobre prevenção. A única maneira de evitar a doença é quebrar o ciclo de transmissão, eliminando o carrapato do cão e do ambiente.

🏡 Controle Ambiental e no Paciente: Estratégias Integradas

O carrapato passa a maior parte da sua vida no ambiente, não no cão. Ele só sobe no animal para se alimentar e se reproduzir. Portanto, a prevenção precisa ser de duas frentes: no paciente e no ambiente.

No paciente, a prevenção é feita com carrapaticidas de alta eficácia. Hoje, temos uma variedade excelente de produtos, como comprimidos orais (à base de isoxazolinas, que matam o carrapato ao se alimentar do sangue), pipetas spot-on (que se espalham pela pele e pelo) e coleiras carrapaticidas de longa duração. A escolha do produto deve ser individualizada, considerando o estilo de vida do cão e a conveniência do tutor, mas a rotina e a consistência são inegociáveis. Não é “usar quando vê o carrapato”; é usar continuamente e no prazo correto.

No ambiente, o tutor tem um papel ativo: manter o quintal limpo, cortar a grama baixa, remover entulho, fezes e folhas secas. Em caso de infestação pesada, o uso de carrapaticidas ambientais específicos é necessário, mas com cautela e sob orientação profissional, garantindo a segurança de todos os moradores. A inspeção diária no pelo do cão após passeios em áreas de risco (parques, matas) também é uma medida mecânica simples e eficaz.

📅 Monitoramento e Rastreio: A Cultura da Prevenção

Você precisa estabelecer uma cultura de prevenção com seus clientes. Para cães em áreas de alto risco, recomende um rastreio anual com hemograma e teste sorológico. Esse monitoramento de rotina é o que nos permite pegar a doença na fase subclínica, antes que ela evolua para um quadro grave.

Reforce que, mesmo após a cura clínica de um episódio agudo, o cão não adquire imunidade permanente e pode ser reinfectado. A prevenção do carrapato é, portanto, um compromisso para a vida inteira do animal. Como professor, meu conselho é: seja o guardião da rotina. Lembre seu cliente por meio de lembretes sobre a data de reaplicação do produto carrapaticida e a importância dos check-ups anuais.


📊 Quadro Comparativo de Agentes Carrapaticidas Orais e Tópicos

Para auxiliar você e o tutor na escolha da melhor estratégia de prevenção, o comparativo entre as principais categorias de antiparasitários é essencial. Não se trata de qual é o “melhor”, mas sim de qual se encaixa melhor no perfil do paciente e do ambiente.

CaracterísticaComprimidos Orais (Isoxazolinas)Pipetas Spot-on (Fipronil/Permetrina)Coleiras Carrapaticidas (Deltametrina/Flumetrina)
Mecanismo de AçãoSistêmico. O parasita morre ao se alimentar do sangue do cão, após a ingestão do princípio ativo.Tópico. O princípio ativo se espalha pela pele e pelos, matando o parasita por contato.Tópico e Ação Lenta. A substância ativa é liberada gradualmente e age por contato.
Duração Média1 a 3 meses (dependendo do princípio ativo e fabricante).1 mês. Requer reaplicação mensal rigorosa.6 a 8 meses, dependendo do produto e princípio ativo.
Rapidez de AçãoRápida (começa a matar carrapatos em poucas horas após a ingestão).Razoável (demora um pouco mais para atingir a concentração máxima).Lenta (o efeito total pode demorar dias para ser alcançado).
Vantagens-chaveAlta eficácia e conveniência. Efeito não afetado por banhos ou natação.Fácil aplicação. Bom para cães que não aceitam coleiras ou que não podem ingerir medicamentos por via oral.Longa duração, ideal para tutores menos disciplinados na aplicação mensal. Proteção contínua.
Limitações/CuidadosO carrapato precisa picar para morrer (embora morra rapidamente), possibilitando a transmissão imediata no início. Necessidade de ingestão.Eficácia pode ser reduzida se o cão for banhado com frequência ou por exposição à água.Risco de perda ou retirada acidental. Alguns cães podem ter reações cutâneas locais.
Uso IdealFundamento da prevenção na maioria dos cães, especialmente em áreas endêmicas de alto risco.Uso em cães que não podem usar coleiras ou ingerir comprimidos. Muitas vezes usado em combinação.Excelente para prevenção contínua e a longo prazo, complementando o controle ambiental.

🌍 A Visão Zoonótica: A Doença do Carrapato em Outras Espécies

Para fechar nossa discussão, não podemos esquecer que, embora a nossa atenção esteja no paciente canino, a Saúde Única nos obriga a expandir o olhar para outras espécies, incluindo o próprio ser humano. A Doença do Carrapato canina é primariamente uma enfermidade do cão, mas a transmissão de patógenos por carrapatos é uma preocupação zoonótica crescente.

Você precisa entender que o Rhipicephalus sanguineus, o carrapato marrom do cão, é o vetor da Erliquiose e Babesiose canina. Embora haja relatos de infecção de humanos por Ehrlichia canis e por algumas espécies de Babesia, a transmissão para o ser humano se dá primariamente pela picada de um carrapato infectado, e não pelo contato direto com o cão doente. O cão funciona como um sentinela da infestação ambiental. Se o seu paciente tem carrapatos e desenvolve a doença, isso é um sinal de alerta de que o ambiente está infestado e que a família humana também pode estar exposta a outros carrapatos e patógenos.

A orientação ao tutor deve ser clara: a principal preocupação zoonótica no Brasil relacionada a carrapatos é a Febre Maculosa, transmitida principalmente pelo carrapato-estrela (Amblyomma sculptum, anteriormente conhecido como Amblyomma cajennense). Embora seja um carrapato e patógeno diferente, a estratégia de controle ambiental e a vigilância são as mesmas: evitar áreas infestadas, usar roupas protetoras ao entrar em matas e inspecionar rigorosamente humanos e pets após o passeio. O nosso trabalho de controlar o Rhipicephalus no ambiente e no cão não só protege a vida do paciente, mas também diminui a população geral de carrapatos, reduzindo, indiretamente, o risco de exposição a outras zoonoses. Ensinar o tutor sobre o ciclo do carrapato e a importância da limpeza do quintal é, na verdade, uma ação de saúde pública.

O manejo da Doença do Carrapato é um campo que exige o seu melhor como clínico: agilidade no diagnóstico, rigor no tratamento e, principalmente, uma dedicação incansável à prevenção. Lembre-se, o prognóstico do seu paciente está diretamente ligado à rapidez com que você agir.

Agora, me diga, qual aspecto específico do tratamento ou da fisiopatologia você gostaria que aprofundássemos?

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