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Como saber se minha cadela está grávida?

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Como saber se minha cadela está grávida?


A Gestação Canina Decifrada: Guia Definitivo do Professor Veterinário para Saber se Sua Cadela Está Grávida

Seja bem-vindo de volta ao “consultório”, meu caro estudante (e proprietário). Você me perguntou: “Professor, como eu sei se minha cadela está prenhe?”. Essa é uma dúvida de ouro, porque a gestação canina, que dura em média 63 dias, é um processo rápido e sutil, e a intervenção precoce é o que separa um bom resultado de um desastre clínico. Não se trata apenas de ver a barriga crescer; trata-se de identificar a tempo a necessidade de cuidados nutricionais específicos, protocolos de vermifugação e, o mais importante, planejar um parto seguro.

Vamos aplicar o método clínico a essa questão. Esqueça as crendices populares. Vamos nos concentrar em evidências e insights práticos, porque é isso que salva vidas e garante ninhadas saudáveis. Você precisa ser o observador primário, o primeiro a notar as mudanças, antes mesmo de eu colocar a mão na paciente. É um trabalho em equipe, e você é fundamental.

Os Sinais Subtis e Visíveis que Disparam o Alerta

Muitos proprietários esperam a barriga avantajada, mas quando esse sinal surge, já perdemos um tempo precioso do primeiro terço da gestação. Você deve procurar as mudanças que ocorrem silenciosamente, resultado da montanha-russa hormonal que é a prenhez. A progesterona é a rainha desse processo, e ela remodela tanto o físico quanto a mente da sua cadela.

O Jogo Comportamental: Mudanças que Você Precisa Observar

O comportamento é a primeira pista, e a mais traiçoeira, porque muitas vezes o interpretamos como simples “manha” ou “preguiça”. Pense na sua cadela como uma paciente que está passando por uma profunda alteração fisiológica. Geralmente, nas primeiras semanas (dias 1 a 21), a mudança mais comum é uma letargia discreta. Você pode notar que sua “aluna” favorita está menos disposta a longas caminhadas ou a brincadeiras vigorosas no parque. Ela pode preferir cochilar em vez de correr.

Outro sinal que costuma surgir é uma variação no apetite, mas não espere um padrão fixo. Algumas cadelas apresentam uma discreta diminuição do apetite no início, o que os proprietários chamam de “enjoo matinal” — uma resposta às alterações hormonais e ao início do desenvolvimento embrionário no útero. Em contraste, outras já demonstram um apetite voraz logo de cara, uma adaptação instintiva para acumular reservas. O ponto chave é: se o comportamento alimentar está atípico, vale a pena investigar.

Por fim, você pode notar um aumento na necessidade de carinho e proximidade com o proprietário, ou, em alguns casos, um isolamento sutil. Ela pode começar a se proteger em cantos mais isolados da casa. O instinto maternal, mesmo no início, já direciona a fêmea para a construção de um ambiente seguro. Essas variações comportamentais, quando combinadas com outros sinais físicos, devem acender uma luz amarela.

Transformações Físicas Iniciais: O Que o Olhar Clínico Identifica

O corpo não mente, mas precisamos saber onde olhar. Se sua cadela acasalou há cerca de 3 a 4 semanas (21 a 28 dias), comece a inspecionar as mamas. O que você deve procurar é o aumento discreto e o rubor (vermelhidão) dos mamilos, um processo chamado de tuberização ou ingurgitamento. Nas fêmeas que nunca gestaram (nulíparas), esse sinal é mais evidente. Os mamilos ficam mais proeminentes e com a aréola mais rosada ou escura.

Em um estágio um pouco mais avançado, por volta da quinta semana (dia 35), o aumento de peso se torna mais notável. É importante que você meça o peso regularmente, não apenas confie no “olhômetro”. O ganho de peso progressivo e a distribuição de gordura que começa a arredondar a área abdominal são indicativos, embora ainda não sejam definitivos, pois a obesidade também causa isso.

Uma secreção vaginal discreta, clara e inodora, pode ser observada entre 4 e 6 semanas. No entanto, preste muita atenção: se a secreção for escura, sanguinolenta ou tiver odor fétido, isso é um sinal de alerta de complicação grave, como uma infecção uterina ou reabsorção fetal, e exige uma visita de emergência. A gestação é um processo fisiológico, mas a patologia adora se infiltrar sorrateiramente.

Acurácia e Limitações da Observação Doméstica

A observação que você faz em casa é o ponto de partida, mas ela tem limitações sérias. Sinais comportamentais e físicos, como ganho de peso, letargia e aumento mamário, são, na melhor das hipóteses, sugestivos. Eles não são diagnósticos. Por quê? Porque existe uma condição chamada pseudociese — a gravidez psicológica — que mimetiza perfeitamente quase todos esses sinais.

Muitos proprietários chegam ao consultório jurando que a cadela está prenhe porque ela está “fazendo ninho” e as mamas estão inchadas, quando na verdade é a queda de progesterona pós-cio que dispara a cascata hormonal da falsa gestação. Confiar apenas nos sinais visíveis pode levar a erros de manejo nutricional e de preparação para o parto. Você pode estar superalimentando uma cadela que não precisa, ou, pior, atrasando a busca por um diagnóstico firme.

É por isso que, na medicina veterinária, não confiamos no achismo. A observação do proprietário deve funcionar apenas como um gatilho para a investigação clínica. É o sinal para você ligar e agendar a consulta. O diagnóstico definitivo é sempre laboratorial ou de imagem.

Desvendando o Diagnóstico: As Ferramentas que Confirmam a Suspeita

Aqui é onde a ciência entra em campo. Se você suspeita que sua cadela está grávida, a nossa abordagem deve ser sistemática e baseada no estágio da gestação. Cada ferramenta de diagnóstico tem sua “janela de oportunidade” ideal, e saber usá-las é o que garante o sucesso.

O Toque do Mestre: A Palpação Abdominal e Seus Limites de Tempo

A palpação abdominal é a arte mais antiga do diagnóstico de prenhez e, quando feita por mãos experientes, é surpreendentemente eficaz. No entanto, ela é extremamente dependente do timing e da experiência do veterinário. A melhor janela para a palpação é entre o 21º e o 35º dia de gestação.

Neste período, o útero, que é normalmente uma estrutura delgada e difícil de isolar, apresenta-se com dilatações esféricas — as vesículas embrionárias. Elas parecem pequenas bolinhas firmes, como uvas, alinhadas dentro dos cornos uterinos. O profissional delicadamente manipula o abdômen para sentir essas estruturas flutuantes.

O grande limite da palpação é o tempo. Após o dia 35, as vesículas se alongam e se fundem, e o útero fica grande, macio e difuso. Tentar palpar nesta fase é como tentar sentir a forma de um balão de água; o risco de causar trauma, reabsorção fetal ou até mesmo aborto se torna inaceitavelmente alto. E, claro, cadelas tensas, obesas ou com gestações de filhote único também dificultam imensamente o diagnóstico por toque.

A Janela de Imagem: Ultrassom (US) e Radiografia (RX) na Linha do Tempo

As ferramentas de imagem são o nosso padrão-ouro. Elas fornecem não só o diagnóstico, mas também dados vitais sobre a viabilidade fetal e o planejamento do parto. O Ultrassom (US) é a ferramenta de eleição para o diagnóstico precoce e a avaliação de viabilidade.

Você pode confirmar a presença dos sacos gestacionais (vesículas cheias de líquido) já a partir do 20º dia. A detecção dos batimentos cardíacos fetais, que são o sinal definitivo de que os filhotes estão vivos, é possível a partir do 25º ao 28º dia. O US permite estimar a idade gestacional e avaliar o estado geral dos filhotes (frequência cardíaca, líquido amniótico). É a nossa ferramenta de prognóstico.

Já o Raio-X (RX) é inútil no início. Os esqueletos dos filhotes (e a ossificação que permite a visualização radiográfica) só começam a se desenvolver o suficiente para serem vistos entre os 45 e 55 dias. Sua função primária não é diagnosticar a prenhez, mas sim contar o número de fetos. A contagem precisa é crucial para o planejamento do parto, pois saber o número exato nos diz quando o parto está completo e se há risco de retenção de filhotes, uma emergência obstétrica.

O Marcador Hormonal: Teste de Relaxina para Confirmação Precoce

A Relaxina é o nosso “teste de gravidez” laboratorial. É um hormônio peptídico produzido pela placenta, e sua presença no sangue da cadela é um indicativo quase inequívoco de prenhez. Ele é o teste mais específico para diferenciar a gestação real da falsa gravidez, já que a relaxina não é produzida na pseudociese.

Este teste de sangue pode ser realizado com segurança a partir do 25º ao 30º dia pós-cobertura. O resultado positivo é confiável, mas um resultado negativo, se feito muito cedo, pode ser um falso negativo, exigindo a repetição.

Em um contexto clínico ideal, você faria o teste de Relaxina para confirmar a prenhez e, em seguida, faria um ultrassom (US) para garantir a viabilidade fetal e, lá pelo dia 55, faria um Raio-X para ter a contagem exata da ninhada. É o triplo check que assegura o melhor manejo.

A Armadilha do Diagnóstico Diferencial: Falsa Gestação

Este é o ponto que derruba muitos proprietários e até mesmo alguns colegas inexperientes. A Pseudociese ou Gravidez Psicológica é um fenômeno notável na espécie canina, e você, como proprietário e aluno, precisa entender essa fisiopatologia para não cair na armadilha.

Etiopatogenia da Pseudociese: Por Que o Corpo Engana a Mente

A falsa gestação não é uma doença, mas sim uma aberração do ciclo reprodutivo canino, que é único. A fêmea canina tem uma longa fase lútea, caracterizada pela predominância do hormônio Progesterona, independentemente de ela ter acasalado e engravidado. Quando a gestação ocorre, a Progesterona sustenta os fetos. Se a gestação não ocorre, a Progesterona cai abruptamente ao final da fase lútea (cerca de 4 a 6 semanas após o cio), e essa queda súbita, em alguns indivíduos, estimula a liberação de Prolactina.

É a Prolactina, o mesmo hormônio responsável pela produção de leite na gestação real, que dispara todos os sinais. O corpo da cadela se comporta exatamente como se estivesse grávida, porque o drive hormonal é quase idêntico ao do final de uma gestação normal. É uma falha no switch fisiológico que confunde o corpo.

Sinais Clínicos da Falsa Gestação: Como Distinguir da Realidade

Os sinais da pseudociese são uma cópia quase perfeita dos sinais tardios da prenhez real. A cadela pode apresentar: aumento e produção de leite nas glândulas mamárias (lactação), aumento de peso, distensão abdominal e, crucialmente, mudanças comportamentais intensas.

O comportamento de nidação (fazer ninho) é muito comum. A cadela pode cavar cobertores ou construir um “cercado” com brinquedos. Ela pode adotar objetos (bolas, sapatos, brinquedos) como se fossem seus filhotes, carregando-os, lambendo-os e defendendo-os agressivamente. Este instinto maternal deslocado é um forte indício de que estamos lidando com a pseudociese.

A grande diferença, clinicamente falando, é a ausência de batimentos cardíacos fetais e fetos no ultrassom e raio-x. É o diagnóstico de imagem que corta o nó górdio. Se você tem todos os sinais físicos e comportamentais de gestação avançada, mas o ultrassom é silencioso, o diagnóstico é falsa gestação.

Manejo e Tratamento da Pseudociese: A Intervenção Farmacológica e Comportamental

O tratamento da pseudociese varia de acordo com a intensidade dos sinais. Em casos leves, o manejo comportamental pode ser suficiente: remova os “filhotes substitutos” (brinquedos), aumente a atividade física para distrair a cadela e restrinja a ingestão de água por um breve período para tentar diminuir a produção de leite.

No entanto, em casos graves, especialmente quando há lactação intensa ou alterações comportamentais que causam sofrimento ou agressividade, a intervenção farmacológica é necessária. Usamos medicamentos que inibem a secreção de Prolactina (como os agonistas da dopamina, por exemplo, a Cabergolina). O tratamento é altamente eficaz, mas deve ser feito sob estrita supervisão veterinária, pois esses medicamentos têm potencial para efeitos colaterais.

Lembre-se: se uma cadela tem pseudociese repetidamente, isso pode ser um forte indicador de que a esterilização (ovariohisterectomia) é a melhor solução a longo prazo para o bem-estar dela, a fim de eliminar a flutuação hormonal que causa o problema.

O Pilar da Saúde Gestacional: Nutrição e Manejo Clínico

Se a gestação foi confirmada, o foco muda imediatamente para garantir um ambiente uterino ideal. O manejo nutricional e sanitário é mais importante nas últimas semanas, mas começa no dia do diagnóstico.

Adequação Nutricional em Cada Terço da Gestação: Evitando a Eclampsia

A gestação canina é dividida em três terços de aproximadamente 21 dias. Nos primeiros dois terços (dias 1 a 42), o manejo nutricional deve ser de manutenção, com foco na qualidade, não no volume. O embrião está crescendo muito lentamente. O excesso de comida nesta fase leva apenas ao ganho de peso da mãe, o que aumenta o risco de distocia (dificuldade no parto).

A grande mudança ocorre no último terço (dias 43 ao parto). É aqui que 70-80% do crescimento fetal acontece. Você deve migrar gradualmente para uma ração de alta energia para filhotes ou específica para gestação/lactação. Essa ração tem mais proteínas, mais gordura e mais calorias, suprindo a demanda dos filhotes em crescimento. A porção deve ser aumentada gradualmente em até 30% a 50% até o parto.

Crucialmente, a suplementação de cálcio é contraindicada durante a gestação! Eu repito: não dê cálcio durante a gestação. A suplementação externa interfere no mecanismo de regulação hormonal do cálcio (parathormônio) da cadela. Se esse mecanismo for desligado pela suplementação, ela não conseguirá mobilizar rapidamente o cálcio do osso durante a lactação, o que a deixa vulnerável à Eclampsia Puerperal – uma crise convulsiva fatal por hipocalcemia. Guarde esse insight clínico.

Vacinação e Vermifugação: O Protocolo Seguro para a Mãe e os Filhotes

O manejo sanitário é delicado e deve ser planejado antes da cobertura. A cadela deve estar com as vacinas (V8/V10 e raiva) em dia antes de engravidar. Não vacinamos cadelas gestantes, pois a resposta imune pode ser estressante e há o risco potencial, embora baixo, de efeitos adversos no feto.

O protocolo de vermifugação, no entanto, é essencial. Muitos parasitas intestinais (como Toxocara canis) podem ser transmitidos da mãe para os filhotes através da placenta e do leite. Por isso, a cadela deve receber um vermífugo seguro para gestantes, geralmente no final da gestação e repetidamente após o parto, para que os filhotes nasçam com a menor carga parasitária possível. O protocolo exato varia, mas a intervenção é obrigatória.

O Estresse do Terceiro Trimestre: Preparando o Ninho e a Mente

O manejo do estresse é uma parte esquecida do manejo gestacional. O aumento do peso e o movimento constante dos fetos no último terço causam desconforto. Você deve fornecer um ambiente calmo e a “caixa de parto” ou “ninho” (uma área limpa, quente e segura) deve ser introduzida cerca de 7 a 10 dias antes da data prevista. Isso permite que a cadela se familiarize e se sinta segura naquele local.

O exercício deve ser mantido, mas moderado. Caminhadas curtas e leves são ideais, mas qualquer atividade que exija saltos, corridas vigorosas ou contato físico com outros cães deve ser interrompida para evitar trauma abdominal. Um ambiente tranquilo e um proprietário calmo são a melhor medicação que você pode oferecer nessa fase.

Complicações Potenciais na Gestação Canina

Nenhuma gestação é totalmente isenta de riscos, e o bom professor (e o bom proprietário) sabe reconhecer o perigo antes que ele se concretize. O conhecimento é a sua melhor ferramenta de emergência.

Interrupção Espontânea (Reabsorção Fetal): O Fim Silencioso da Gestação

A interrupção espontânea da gestação, ou reabsorção fetal, é um evento comum no início da gestação, muitas vezes passando despercebido. Se a cadela perde os fetos nas primeiras semanas, o corpo simplesmente “reabsorve” os embriões, e a cadela retorna ao estado não gestante sem sinais de aborto. As causas são variadas: infecções (como a Brucella canis, que é uma zoonose perigosa e deve ser rastreada), desequilíbrios hormonais (baixa Progesterona), ou anomalias genéticas.

Se a perda ocorrer mais tarde, após a ossificação fetal, ela pode se manifestar como um aborto, com a cadela expelindo fetos mortos. Se você observar qualquer descarga vaginal escura, purulenta ou sanguinolenta em qualquer estágio da gestação, isso é uma emergência. Pode ser reabsorção, aborto ou, pior, uma infecção uterina grave (metrite).

Distocia e Inércia Uterina: O Risco na Hora do Parto

A distocia é a dificuldade ou incapacidade de parir naturalmente, e é uma das emergências obstétricas mais comuns. A causa pode ser materna (problemas com o canal de parto, exaustão, inércia uterina) ou fetal (fetos muito grandes, má apresentação ou má postura).

A Inércia Uterina é um tipo de distocia em que o útero simplesmente não tem contrações fortes o suficiente. Ela pode ser primária (o útero nunca começa a contrair, comum em ninhadas muito grandes ou muito pequenas) ou secundária (o útero começa a trabalhar, mas se cansa devido ao longo esforço, exaustão).

Você deve procurar ajuda se: o tempo entre a passagem do primeiro filhote e o próximo for superior a 2 horas (embora 4 horas seja o limite de tolerância em alguns protocolos) ou se a cadela estiver fazendo esforços expulsivos vigorosos por mais de 30 minutos sem a expulsão de um filhote. Não hesite. Atrasos significam que os filhotes restantes podem morrer por anóxia.

Eclampsia Puerperal: A Crise Metabólica Pós-Parto

A Eclampsia, ou febre do leite, é uma emergência com alto risco de vida que geralmente ocorre nas primeiras semanas de lactação, mas pode ocorrer antes do parto. É causada pela hipocalcemia — níveis perigosamente baixos de cálcio no sangue, devido à grande demanda de produção de leite.

Os sinais iniciais são sutis: nervosismo, ofegância excessiva, tremores e rigidez nas patas. Se não tratada, evolui rapidamente para espasmos musculares, tetania e convulsões fatais. Se você ver esses sinais, chame o veterinário imediatamente. O tratamento é a administração lenta e controlada de cálcio intravenoso. Lembre-se do que eu disse sobre a suplementação? O manejo correto da dieta durante a gestação e a lactação é a sua principal ferramenta preventiva.

Planejamento Reprodutivo Responsável e Seus Impactos

Toda gestação, intencional ou acidental, deve ser vista sob a lente da responsabilidade. A criação e a reprodução envolvem ética, genética e um profundo compromisso com a saúde da raça e o bem-estar da fêmea.

O Melhor Momento para a Reprodução: Maturidade Física e Comportamental

Não basta que a cadela atinja a puberdade (o primeiro cio, que pode ocorrer entre 6 e 18 meses). A reprodução não deve ocorrer antes da maturidade física e comportamental completa, que geralmente só é alcançada após o segundo ou terceiro cio, ou seja, em torno dos dois anos de idade.

Reproduzir muito cedo coloca estresse indevido sobre um corpo que ainda está em desenvolvimento. Por outro lado, fêmeas idosas (acima de 7 anos) também apresentam risco aumentado de distocia, inércia uterina e complicações anestésicas, caso uma cesariana seja necessária. O timing ideal é uma janela de oportunidade na plenitude da vida reprodutiva da cadela.

Genética e Rastreio de Doenças Hereditárias: O Compromisso com a Raça

Se você está planejando a reprodução, o rastreio genético não é opcional; é uma obrigação ética. Muitas raças são propensas a condições debilitantes como displasia de quadril (em raças grandes), doenças oculares (catarata, atrofia progressiva da retina) ou problemas cardíacos.

Tanto o macho quanto a fêmea devem ser examinados e certificados como livres de doenças hereditárias comuns à sua raça. Reproduzir animais com problemas genéticos é uma negligência que perpetua o sofrimento e mina o trabalho de seleção positiva. Você não é um professor que passa de ano alunos despreparados; não reproduza cães com falhas genéticas conhecidas.

A Decisão da Esterilização: O Impacto a Longo Prazo na Saúde Reprodutiva

Embora estejamos falando de gestação, a esterilização (ovariohisterectomia) é a intervenção de saúde reprodutiva mais importante que existe. Se você não tem planos de criar responsavelmente e com rastreio genético rigoroso, a castração é a melhor escolha, não apenas para o controle populacional.

A esterilização elimina o risco de piometra (infecção uterina, que é fatal se não tratada), reduz drasticamente a incidência de tumores mamários (especialmente se feita antes do segundo cio) e, é claro, elimina a possibilidade de pseudociese e gestações indesejadas. É uma decisão de saúde preventiva com um impacto positivo de longo prazo no bem-estar e na longevidade da sua paciente.

📊 Comparativo: Métodos de Diagnóstico de Gestação Canina

Para que você visualize as janelas de oportunidade que discutimos, aqui está um quadro comparativo dos três principais métodos diagnósticos.

Método DiagnósticoMelhor Período para UsoO que Detecta/AvaliaVantagensDesvantagens
Palpação AbdominalDias 21 a 35Vesículas embrionárias (presença)Rápido, custo baixoAlta dependência da experiência do clínico, risco de erro ou trauma, ineficaz após o dia 35.
Ultrassom (US)A partir do Dia 20 (Saco Gestacional) / Dia 25 (Batimento Cardíaco)Presença de gestação, viabilidade (filhotes vivos), estimativa de idade.Não invasivo, detecta viabilidade fetal (batimentos), diagnóstico precoce.Não é preciso para a contagem total de filhotes, exige equipamento especializado.
Radiografia (RX)A partir do Dia 45Contagem exata do número de filhotes (ossificação)Melhor ferramenta para contagem de fetos (planejamento de parto).Ineficaz antes do dia 45, não fornece informação sobre a viabilidade fetal (vivo ou morto).

Esteja sempre um passo à frente. O manejo da gestação começa com o diagnóstico precoce e preciso. Não confie apenas no aumento dos mamilos ou na preguiça da sua cadela. Use esses sinais como um chamado para a ação e procure a confirmação científica. Seu papel é de observador atento; o meu, como seu veterinário, é de guia clínico e cirúrgico.

Você gostaria de se aprofundar em algum dos tópicos de emergência que discutimos, como o manejo de uma distocia ou os protocolos de alimentação durante a lactação?

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