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Perda de pelo em gatos: Causas comuns

Perda de pelo em gatos: Causas comuns

Perda de pelo em gatos: Causas comuns

Perda de Pelo em Gatos: Um Guia do Professor Veterinário sobre Alopecia Felina

E aí, pessoal! Professor está na área. Hoje, vamos bater um papo sério, mas descontraído, sobre um dos campeões de queixas nas clínicas: a famosa alopecia felina, ou, simplesmente, a perda de pelo nos nossos gatinhos. Você, como futuro ou atual felino-tutor responsável, já deve ter notado aqueles tufos de pelo pela casa ou, o que é mais preocupante, falhas visíveis na pelagem do seu paciente de quatro patas. Antes que você entre em pânico e comece a vasculhar a internet em busca de diagnósticos milagrosos — o que, cá entre nós, nunca é uma boa ideia — deixe-me explicar o panorama completo.

A perda de pelo, ou alopécia, não é uma doença em si; é um sintoma, um sinal clínico que grita que algo no organismo do gato não está funcionando como deveria. No meu consultório, sempre digo aos alunos que o pelo é o espelho da saúde do felino. Uma pelagem brilhante, densa e sedosa é o nosso status quo, o padrão-ouro que buscamos. Qualquer desvio disso exige uma investigação clínica minuciosa, que começa com a anamnese detalhada e o exame físico completo. Lembra-se daquele velho ditado? “O que os olhos não veem, o microscópio e a história do paciente revelam.” Seu papel é ser o bom observador, e o meu, aqui, é te dar a lente para identificar a diferença entre o que é normal e o que é patológico.

Neste guia, vamos dissecar as causas comuns de alopecia felina, desde as trocas fisiológicas até os distúrbios mais complexos. Você verá que o diagnóstico diferencial em felinos é uma verdadeira arte, exigindo que a gente pense fora da caixa e considere a complexa interação entre genética, ambiente, nutrição e, claro, o fator psicológico. Prepare-se, porque o mundo da dermatologia felina é fascinante e cheio de nuances. Vamos começar pelo básico, mas fundamental, para que você não confunda a troca de guarda sazonal com uma emergência dermatológica.

O Ciclo do Pelo e a Queda Fisiológica (Para Começar a Conversa)

Como veterinários, a primeira coisa que temos que saber é diferenciar a queda de pelo fisiológica da patológica. A queda natural é como a nossa, humana, quando o cabelo cai na escova. É um processo normal, contínuo, mas que se intensifica em certos períodos. No gato, a pelagem é um isolante térmico vital, e seu crescimento e queda são finamente regulados por fatores genéticos, ambientais (principalmente luz e temperatura) e hormonais. Não dá para diagnosticar uma doença onde só existe biologia em ação, certo?

Fases Naturais do Folículo Pilosa (Anágena, Catágena, Telógena)

Preste atenção nesta parte, porque é pura tricologia. O ciclo de vida de um pelo é dividido em três fases principais, e elas são a chave para entender qualquer tipo de perda. A fase Anágena é o período de crescimento ativo, onde o folículo piloso está produzindo vigorosamente o fio. Pense nela como a juventude do pelo: forte e crescendo sem parar. A seguir, temos a fase Catágena, que é uma transição rápida; o crescimento para e o folículo começa a se preparar para o repouso. É um momento de involução do folículo.

Por fim, chegamos à fase Telógena, o repouso. Aqui, o pelo “velho” está pronto para ser liberado e o folículo descansa antes de iniciar um novo ciclo anágeno. É este pelo telógeno que você encontra no sofá e na sua blusa preta, colega. Em gatos, a maioria dos folículos passa a maior parte do tempo na fase telógena, e a alopécia só se torna aparente quando há uma interrupção prematura da fase anágena ou uma perda excessiva e simultânea de pelos telógenos.

A Grande Mudança Sazonal: O “Pelo Morto” Que Não é Preocupante

Os gatos domésticos, embora vivam em ambientes controlados, ainda são influenciados pela sazonalidade, principalmente pela variação da fotoperíodo (quantidade de luz por dia). Você notará que, classicamente, o aumento da queda de pelo ocorre na primavera e no outono. Na primavera, o gato está se desfazendo do seu denso “casaco de inverno” para se adaptar às temperaturas mais quentes. No outono, ele se prepara para construir a pelagem mais espessa do inverno.

Se você mora em regiões de clima mais ameno, ou se o gato vive 100% dentro de casa com luz artificial constante, essa queda pode ser menos acentuada, mas tenderá a ser mais contínua e menos previsível ao longo do ano. O ponto crucial é que essa queda fisiológica é uniforme. Você não deve ver falhas ou áreas calvas, apenas uma pelagem que parece um pouco menos densa enquanto a troca ocorre. Se a queda é localizada e seu gato está se coçando ou lambendo a área de forma obsessiva, aí sim, acende-se a luz vermelha.

A Importância da Escovação (Grooming) no Manejo Normal

Como professor, eu sempre insisto: a escovação regular é uma ferramenta de manejo de saúde, e não apenas de estética. Ela cumpre um papel duplo: primeiro, ajuda a remover mecanicamente os pelos que já estão na fase telógena, diminuindo a quantidade de pelo que o gato ingere durante o seu próprio grooming. Isso é vital para prevenir a formação daquelas indesejáveis bolas de pelo (tricobezoares) que podem causar sérios problemas gastrointestinais.

Segundo, e talvez mais importante para o nosso tema, a escovação é um momento de inspeção. É quando você — o tutor, o observador de primeira linha — pode notar a presença de parasitas (como debris de pulga), lesões cutâneas, vermelhidão ou áreas de perda de pelo que estão começando a se formar. Lembre-se de dirigir-se ao seu gato com carinho e transformar a escovação em um momento positivo, usando reforço positivo, para evitar que ele associe o toque a algo ruim. Você não quer causar estresse no seu paciente justamente quando está tentando monitorar sua saúde.

Invasores Invisíveis e a Pruriticofilia Felina (Causas Dermatológicas Primárias)

Agora, vamos entrar no campo da patologia, onde a maioria dos casos de alopecia se concentra. Quando a queda de pelo não é uniforme e está associada a coceira (prurido), vermelhidão (eritema) ou crostas, o primeiro suspeito que colocamos no banco dos réus é sempre um agente externo ou uma reação a ele. A gente chama essa tendência do gato se coçar ou lamber em excesso de pruriticofilia felina. Em essência, o gato sente coceira e, ao tentar aliviar esse desconforto, ele mesmo causa o trauma que resulta na perda do pelo.

Dermatite Alérgica à Picada de Pulgas (DAPP): O Inimigo Minúsculo

Se eu pudesse escolher a causa mais comum de coceira e queda de pelo em gatos, a Dermatite Alérgica à Picada de Pulgas (DAPP) ganharia o troféu. Não subestime a pulga, aluno! O problema não é o parasita em si, mas sim a saliva que ela injeta na pele do gato ao se alimentar. Muitos gatos desenvolvem uma hipersensibilidade grave a essa saliva, e basta uma única picada para desencadear uma reação alérgica intensa, resultando em prurido descontrolado.

A DAPP em gatos geralmente se manifesta com uma queda de pelo concentrada na região lombo-sacral (perto da base da cauda), abdômen e flancos. É comum vermos a chamada dermatite miliar, que são pequenas crostas que parecem grãos de milho espalhadas pela pele. Se você notar o gato se lambendo obsessivamente na região da cauda, você já tem um diagnóstico presuntivo forte para a DAPP. O tratamento, como você pode imaginar, começa com o controle rigoroso da pulga, tanto no animal quanto no ambiente, usando parasiticidas de alta eficácia. Você não pode tratar a alergia sem eliminar o alérgeno!

Dermatofitose (Micose): O Ataque Fúngico e a Zoonose

Outro vilão frequente, especialmente em filhotes, gatos imunocomprometidos ou em ambientes de alta densidade populacional (como gatis), é a dermatofitose, popularmente conhecida como micose. O principal agente é o fungo Microsporum canis. A dermatofitose é uma infecção fúngica que ataca o folículo piloso e a pele, levando a uma quebra do pelo.

Clinicamente, o que você mais notará são as lesões de alopecia circulares, geralmente com uma casca ou descamação no centro e uma área de pelo quebrado ao redor. Essas lesões podem coçar, mas nem sempre. O ponto crucial que sempre destaco é que essa é uma zoonose, ou seja, é transmissível para você, para mim e para as outras pessoas da casa. O diagnóstico é feito facilmente com a lâmpada de Wood (embora nem todo M. canis brilhe) ou, de forma mais precisa, com a cultura fúngica. O tratamento exige paciência, pois envolve antifúngicos sistêmicos e tópicos, além da descontaminação ambiental.

Sarnas (Notoédrica e Otodécica): Muito Além da Coceira na Orelha

Não podemos esquecer dos ácaros, que são pragas que causam coceira e perda de pelo de forma dramática. A sarna notoédrica (Notoedres cati) é a sarna felina clássica. Ela causa uma coceira tão intensa que o gato se automutila, levando à perda de pelo, espessamento da pele e crostas, classicamente começando na face e nas orelhas e se espalhando. É altamente contagiosa entre felinos.

Por outro lado, a sarna otodécica (Otodectes cynotis) é aquela que se concentra no canal auditivo, mas o coçar violento das orelhas e da cabeça também pode levar à perda de pelo e lesões na região pré-auricular e ao redor do pescoço. Em ambos os casos, a raspagem de pele ou o exame otoscópico revela o agente e permite o tratamento direcionado com acaricidas específicos. Se você vir um gato com falhas de pelo ao redor das orelhas e secreção escura no ouvido, o ácaro é o seu suspeito número um.

Quando a Imunidade Se Volta Contra o Próprio Corpo (Reações de Hipersensibilidade)

A alopécia, muitas vezes, é um sinal de que o sistema imunológico do gato está reagindo exageradamente a algo inofensivo no ambiente ou na dieta. As reações de hipersensibilidade são um desafio diagnóstico, porque exigem um trabalho de detetive para isolar o alérgeno (a substância que causa a reação) do vasto mundo em que o gato vive. É aqui que você precisa da sua paciência de clínico.

Alergias Alimentares: A Culpada Oculta no Prato

A alergia alimentar em gatos ocorre quando o sistema imunológico reage a uma proteína específica presente na dieta. O gato pode ter se alimentado daquela ração por anos, mas, de repente, o corpo decide que aquela proteína (frango, carne, peixe, etc.) é uma ameaça. Embora possa causar vômitos e diarreia, o sintoma mais comum é o prurido não sazonal, que não é afetado pelas mudanças do clima.

A perda de pelo devido à alergia alimentar costuma ser generalizada, mas pode focar-se na face, pescoço e abdômen. O diagnóstico é o mais complicado das alergias e exige um rigoroso teste de dieta de eliminação. Você precisa alimentar o gato por 8 a 12 semanas, somente, com uma dieta hipoalergênica, baseada em proteínas hidrolisadas ou proteínas não convencionais, e observar a regressão dos sintomas. É um teste de paciência, pois uma única mordida de petisco “proibido” arruína o processo.

Dermatite Atópica Felina (DAF): A Reação ao Ambiente

A DAF é a reação de hipersensibilidade a alérgenos ambientais inalados ou absorvidos pela pele, como pólen, ácaros da poeira ou mofo. É a versão felina da “febre do feno” humana. Assim como a alergia alimentar, a atopia causa um prurido intenso que leva à alopecia autoinduzida. A grande diferença aqui é a sazonalidade, ou a falta dela. Se o gato é alérgico a pólen, o prurido será pior em certas épocas do ano; se for a ácaros da poeira, o problema é mais constante.

A alopécia por DAF geralmente é bilateral e simétrica, concentrando-se em áreas de fácil acesso para a lambedura, como a parte interna das coxas, o abdômen e os flancos. O diagnóstico da DAF é por exclusão – eliminamos parasitas e alergias alimentares primeiro. Uma vez confirmado, o tratamento envolve o manejo ambiental (tentar diminuir a exposição ao alérgeno), medicamentos para controlar a coceira (como ciclosporina ou oclacitinibe) e, em casos mais graves, a imunoterapia específica para alérgenos.

Alopecia Autoinduzida Secundária ao Prurido Intenso

Independentemente da causa primária (pulgas, comida ou ambiente), a grande maioria da perda de pelo que vemos em casos de prurido intenso é classificada como alopecia autoinduzida. O gato sente uma coceira incontrolável e, para aliviá-la, ele se lambe, mastiga ou se coça de forma tão agressiva que o fio de pelo é quebrado ou arrancado do folículo.

Sempre que um gato tem falhas de pelo, você, como clínico, deve primeiro tentar determinar se essa perda é espontânea (o pelo caiu sozinho) ou autoinduzida (o gato o removeu). Isso é feito com o exame de tricograma, onde analisamos o pelo ao microscópio. Se a ponta do pelo estiver quebrada ou traumatizada, o gato é o responsável. Se a ponta estiver afinada e o folículo estiver em telógena, a queda é espontânea e a causa é provavelmente hormonal ou sistêmica.

A Mente do Gato e o Reflexo na Pelagem (Causas Comportamentais)

Se você eliminou todas as causas dermatológicas e sistêmicas, e o tricograma ainda mostra pelos quebrados (indicando alopecia autoinduzida), é hora de investigar a psique felina. Nossos gatos são mestres em disfarçar emoções, e o estresse e a ansiedade podem se manifestar de formas surpreendentes. A perda de pelo de origem comportamental é um diagnóstico de exclusão, mas é, ironicamente, uma das causas mais comuns de alopécia simétrica em felinos.

Alopecia Psicogênica: O Lambe-Lambe Compulsivo

A alopecia psicogênica é a manifestação física de um transtorno comportamental. O gato desenvolve um comportamento de grooming (lambedura) compulsivo e excessivo como forma de lidar com a ansiedade, o tédio ou o estresse. É como se a lambedura se tornasse uma estratégia de coping, um mecanismo de alívio de tensão. Ele está se auto-acalentando, mas, nesse processo, ele arranca os pelos.

As áreas afetadas são tipicamente aquelas de fácil acesso: abdômen, face interna das coxas, flancos e a região perineal. A pelagem fica fina, rala, ou surgem áreas de calvície simétrica. O desafio é que, muitas vezes, o ato de lamber ocorre discretamente, longe dos olhos do tutor, o que torna difícil para o proprietário acreditar que seu paciente é o culpado. Se você está pensando em dar um diagnóstico de alopecia psicogênica, certifique-se de que sua exclusão de causas orgânicas foi realmente rigorosa.

A alopécia psicogênica é um problema que precisa ser tratado em duas frentes: a modificação comportamental e o controle da ansiedade. Você precisa identificar o estressor e, ao mesmo tempo, oferecer ferramentas farmacológicas (como inibidores seletivos de recaptação de serotonina – ISRSs) ou suplementos ansiolíticos para quebrar o ciclo vicioso do comportamento compulsivo.

Identificando Fatores Estressores (Mudanças, Conflitos, Enriquecimento)

No campo da medicina comportamental, nosso trabalho é mapear o ambiente do gato. O que está causando essa ansiedade? Gatos odeiam mudanças! Um novo animal de estimação, a chegada de um bebê, uma mudança de casa, até mesmo uma mudança na sua rotina de trabalho que o deixa fora por mais tempo pode ser um gatilho. O conflito social com outros gatos da casa ou do vizinho também é uma causa clássica de estresse crônico.

Você precisa fazer perguntas diretas ao tutor. Houve alguma mudança recente? O gato tem acesso a esconderijos verticais e horizontais? Ele tem comedouros e caixas de areia suficientes? O gato que sofre de tédio, por exemplo, pode direcionar essa energia reprimida para o grooming excessivo. Um ambiente pobre em estímulos é, para um felino, um fator estressor potente, levando à alopécia autoinduzida como um subproduto dessa privação sensorial.

Abordagem Comportamental: Do Enriquecimento à Farmacologia

A solução para a alopecia psicogênica é complexa, mas altamente gratificante quando funciona. Primeiro, o enriquecimento ambiental é a pedra angular. Isso significa fornecer arranhadores, brinquedos interativos (principalmente os de caça com comida), janelas para observação e, crucialmente, espaços verticais seguros (prateleiras, árvores de gato) onde ele pode se sentir no controle.

Segundo, você pode utilizar feromônios sintéticos felinos (Feliway é o mais conhecido), que mimetizam os feromônios faciais que os gatos usam para marcar o ambiente como seguro. Isso pode ajudar a diminuir o nível geral de ansiedade. Se, e somente se, as medidas ambientais e de manejo falharem, você pode considerar a intervenção farmacológica com medicamentos ansiolíticos. Lembre-se, o medicamento é um auxílio temporário, um “remédio” para a ansiedade, mas a mudança real e duradoura vem com a modificação do ambiente e do comportamento.

O Metabolismo no Divã (Causas Sistêmicas e Endócrinas)

Nem toda perda de pelo vem de fora (parasitas, alérgenos) ou da mente (estresse). Algumas vezes, a queda é um sinal de que algo dentro do organismo não está em harmonia. Estas são as causas de alopecia espontânea (não autoinduzida), que geralmente são simétricas, não pruriginosas e exigem um olhar atento para os exames de sangue e o histórico clínico geral do paciente.

Desequilíbrios Hormonais (Hiperadrenocorticismo e Outras Rarestas)

As causas endócrinas são raras em gatos, mas não podem ser ignoradas. A mais clássica que pode levar à alopecia espontânea e simétrica é o Hiperadrenocorticismo (doença de Cushing). É uma condição onde há um excesso de produção de cortisol. Nos felinos, a manifestação clínica inclui, além da alopecia (geralmente no tronco e abdômen), uma pele fina, frágil e propensa a hematomas, e diabetes mellitus concomitante.

Outras desordens, como o hipotireoidismo, são raríssimas em gatos e não causam alopécia como sintoma primário. O ponto é: se o tricograma está limpo (não autoinduzido), a coceira não existe, e a perda é simétrica e bilateral, você precisa pensar em distúrbios hormonais ou metabólicos. Nesses casos, o diagnóstico é feito com exames de sangue específicos (como o teste de supressão por dexametasona para Cushing).

Deficiências Nutricionais: O Papel das Proteínas e Ácidos Graxos Essenciais

O pelo é feito, essencialmente, de proteína (principalmente queratina). Se a dieta do seu paciente não fornece proteínas de alta qualidade e em quantidade suficiente, o crescimento do pelo é comprometido. Isso é especialmente verdadeiro para gatos, que são carnívoros estritos e têm uma necessidade metabólica muito alta de proteína. A deficiência proteica pode levar a uma pelagem áspera, opaca e uma queda de pelo generalizada e fraca.

Além das proteínas, os ácidos graxos essenciais (AGEs), como o Ômega-3 (EPA e DHA), são cruciais para a saúde da pele e para a regulação da inflamação. Uma deficiência de AGEs na dieta pode levar a uma pele seca, escamosa e, consequentemente, à má qualidade do pelo e à queda. Meu conselho de professor é sempre o mesmo: invista em uma dieta de alta qualidade, balanceada para felinos, e considere a suplementação com Ômega-3, que atua como um excelente anti-inflamatório natural e um promotor da saúde do folículo piloso.

Doenças Crônicas e Neoplasias Paraneoplásicas

Em casos mais raros e graves, a alopecia pode ser um sinal de uma doença sistêmica crônica ou até mesmo uma síndrome paraneoplásica — uma manifestação dermatológica de um câncer interno. Por exemplo, tumores pancreáticos ou hepáticos podem, indiretamente, levar a uma condição chamada alopecia paraneoplásica, que é uma queda de pelo súbita, não inflamatória e simétrica, muitas vezes com a pele brilhante e não pruriginosa.

Quando o paciente tem perda de pelo sem coceira e está doente (letargia, perda de peso, anorexia), seu radar deve se ligar imediatamente para as causas sistêmicas. O corpo está priorizando a energia para combater a doença interna, e a produção de pelo (que é um processo metabolicamente caro) é sacrificada. Aqui, o tratamento da alopecia está intrinsecamente ligado ao tratamento da doença subjacente (câncer, doença renal crônica, etc.).


Quadro Comparativo de Produtos para Manejo da Saúde da Pelagem

Para te ajudar a orientar o tutor sobre as melhores ferramentas de suporte, preparei uma pequena comparação de três categorias de produtos essenciais no manejo da pelagem e pele do gato. Lembre-se, esses são auxiliares ao tratamento da causa primária!

CaracterísticaSuplemento de Ômega-3 (Óleo de Peixe)Ração Hipoalergênica (Proteína Hidrolisada)Feromônio Sintético Felino (Difusor)
Ação PrincipalAnti-inflamatória, suporte à barreira cutânea, melhora da qualidade do pelo.Exclusão de alérgenos alimentares e teste diagnóstico de alergia.Redução de estresse e ansiedade, manejo comportamental.
Composição ChaveÁcidos Eicosapentaenoico (EPA) e Docosahexaenoico (DHA).Proteínas com peso molecular reduzido (hidrolisadas) ou fontes proteicas não convencionais (exóticas).Análogos sintéticos dos feromônios faciais felinos.
Melhor IndicaçãoDAF, DAPP, pele seca, pelagem opaca. Coadjuvante em qualquer inflamação dermatológica.Suspeita de Alergia Alimentar. Uso exclusivo por 8 a 12 semanas para diagnóstico.Alopecia Psicogênica, tédio, conflito social entre gatos, mudanças ambientais (viagens, reformas).
Resultado EsperadoDiminuição do prurido e da inflamação; pelo mais brilhante e forte.Resolução ou melhora significativa dos sintomas de prurido após o período de teste.Diminuição da lambedura compulsiva e dos sinais de ansiedade no ambiente.

Conclusão: O Olhar Integrado do Clínico

É isso, turma. Vimos que a perda de pelo em gatos é uma manifestação complexa que raramente se resume a uma única causa. Exige um olhar clínico integrado. Você não pode tratar um gato com DAPP apenas com Ômega-3; da mesma forma, você não pode resolver uma alopécia psicogênica apenas com um antipulgas. Você, como clínico, precisa ser o mestre em conectar os pontos: o ambiente do gato, a nutrição dele, a saúde comportamental e a pesquisa de parasitas.

Lembre-se sempre: comece pela eliminação das causas mais comuns — parasitas e fungos. Se a coceira persistir, vá para a diferenciação de alergias (dieta versus ambiente). Se tudo for negativo, e o gato estiver se automutilando, investigue o estresse. Mantenha seu raciocínio lógico, use as ferramentas de diagnóstico de forma inteligente (tricograma, lâmpada de Wood, dietas de eliminação) e você terá sucesso em restaurar a saúde e o esplendor da pelagem do seu paciente felino. A dermatologia é um mar de possibilidades, mas a base é sempre a mesma: um diagnóstico preciso.


Se precisar de mais detalhes sobre o manejo clínico de alguma dessas causas, como a dosagem inicial de um medicamento específico para a DAF, é só me chamar. Qual causa te despertou mais interesse para aprofundarmos em um próximo guia?

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