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Gato com tosse ou engasgando: O que pode ser?

Gato com tosse ou engasgando: O que pode ser?

Gato com tosse ou engasgando: O que pode ser?


Gato com Tosse ou Engasgando: O Que Pode Ser? Desvendando o Mistério Respiratório Felino

E aí, futuro colega! Que bom que você trouxe esse tema para a nossa discussão. O gato que tosse ou engasga é um dos quadros mais intrigantes e, às vezes, desesperadores que a gente vê na clínica de pequenos animais. Você já reparou que o tutor sempre chega dizendo que o gato está “engasgando”? A primeira coisa que você precisa internalizar é que, diferentemente dos cães, que frequentemente apresentam tosse por questões cardíacas ou colapso de traqueia, a tosse no felino raramente é cardíaca e, quando ocorre, quase sempre é um sinal de doença primária do trato respiratório inferior. É um reflexo complexo, e nosso trabalho é traduzir o sintoma em diagnóstico.

Vamos direto ao ponto. Quando o tutor relata que o gato está tendo aquele acesso, parecido com um vômito seco ou um engasgo, você precisa ser cirúrgico na sua anamnese para descobrir se o animal está realmente tentando expelir algo (um engasgo ou bola de pelo) ou se é um ato reflexo de irritação das vias aéreas (a tosse pura). Se você souber diferenciar isso logo de cara, já está à frente de 90% dos casos.

A Arte da Ausculta: Diferenciando Tosse, Engasgo e Vômito de Bola de Pelo

Você, como clínico, precisa treinar o seu ouvido e a sua percepção. Eu sempre digo que a melhor ferramenta diagnóstica está na ponta do nosso estetoscópio, mas, no caso do felino tossidor, a observação do vídeo que o tutor traz no celular é a sua “broncoscopia” inicial. Preste atenção na postura e na sonoridade. É isso que vai separar o joio do trigo.

Postura e Som: A Chave para o Diagnóstico Rápido

O gato com tosse verdadeira geralmente adota uma postura muito característica, que é o que chamamos de ortopneica (não de emergência) ou, mais tipicamente, a postura de esfinge. O animal se agacha, fica com o corpo bem rente ao chão, estica o pescoço ligeiramente para a frente e para baixo, mas mantém a boca fechada ou apenas entreaberta. Quando o ar é forçado através dos brônquios estreitados e inflamados, o som é seco, curto e repetitivo, terminando em um “huff” ou um movimento de deglutição, como se estivesse tentando limpar a garganta. Você verá o corpo dele tremendo ligeiramente a cada esforço. O ponto crucial é que ele não tem as fortes contrações abdominais que levam ao vômito.

Por outro lado, o gato que está tentando vomitar uma bola de pelo (tricobezoar) ou que está verdadeiramente engasgado demonstra contrações abdominais visíveis, com as costas arqueadas, e frequentemente abre a boca, expõe a língua e faz aquele som de ânsia de vômito. Você já deve ter visto isso inúmeras vezes. No caso do tricobezoar, é um processo prolongado de “engasgo”, que só termina quando a bola de pelo é regurgitada ou, mais perigosamente, quando o esforço cessa e o problema persiste no trato gastrointestinal ou na faringe, irritando a traqueia. É uma diferença sutil, mas que define a origem do problema: se é respiratória (tosse) ou gastrointestinal/obstrutiva (engasgo/vômito). Você está usando a anatomia e a fisiologia do ato para fazer o seu primeiro diagnóstico diferencial, sem precisar de um único exame ainda. Pense nisso: você está humanizando a sua abordagem, explicando ao tutor o porquê de cada sintoma e mostrando o seu domínio sobre a patofisiologia do paciente.

O Engasgo (Obstrução Aguda): Uma Emergência de Vida ou Morte

Agora, se o caso for um engasgo de verdade, uma obstrução aguda das vias aéreas, o quadro é dramático, e você precisa agir rápido, pois é uma emergência real, um risco de vida imediato. O gato não vai estar apenas tossindo; ele vai estar em dispneia, que é a dificuldade respiratória intensa. Ele fará esforços violentos para respirar, a respiração será ruidosa (estridor), e ele pode entrar em pânico. A mucosa dele pode ficar azulada ou roxa (cianose), indicando a falta crítica de oxigênio (hipóxia).

Nessa situação, a prioridade absoluta é desobstruir as vias aéreas. Você precisa estabilizar o paciente imediatamente. Em alguns casos, o objeto pode ser visível na orofaringe, e você pode tentar a remoção manual com cuidado e sob visualização direta, mas, honestamente, na clínica felina, a coisa é tensa. Você pode ter que recorrer à Manobra de Heimlich adaptada para felinos, que envolve segurar o animal com as costas apoiadas em você e fazer compressões abdominais rápidas e firmes. Mas, atenção: o melhor conselho que você pode dar ao seu aluno ou ao tutor é: não perca tempo. Vias aéreas obstruídas significam minutos, e a corrida é para o atendimento emergencial onde a equipe tem os recursos para intubação, sedação e remoção segura do corpo estranho. Lembre-se, o gato em sofrimento respiratório intenso pode reagir de forma agressiva, e a sua segurança também conta, mas a vida do paciente é o foco. É um momento de alta adrenalina e de tomada de decisão baseada em princípios básicos de emergência: A, B, C (Vias Aéreas, Respiração, Circulação).

Tricobezoares (Bolas de Pelo): O “Engasgo” Gastrointestinal Frequente

Por fim, e de longe o mais comum dos “engasgos” relatados, é a tentativa de expulsão dos tricobezoares. Gatos são mestres na auto-higiene. O problema é que, ao lamber, eles ingerem pelos que, em vez de passar suavemente pelo trato gastrointestinal, se acumulam no estômago formando essas bolas de pelo. Quando o acúmulo é grande, o reflexo do gato é tentar regurgitar. Como mencionei antes, a postura é de vômito, com contrações abdominais fortes e o pescoço esticado.

O grande insight prático aqui é: se o gato está apresentando esse padrão de “engasgo” de forma frequente, ele tem uma motilidade gastrointestinal que precisa de manejo ou uma rotina de escovação que precisa ser intensificada. Não é, na maioria das vezes, um problema respiratório primário, mas é um processo que irrita a faringe e pode levar o tutor a pensar em tosse. O tratamento é simples e passa pela suplementação com pastas de malte ou óleos específicos, e pelo manejo da dieta, visando a saúde intestinal. Nunca subestime a importância de uma boa nutrição e escovação regular. Você está tratando a causa, não apenas o sintoma, e isso é o que um bom veterinário faz.

Asma Felina (Bronquite Alérgica): O Fantasma Crônico do Pulmão

Se você descartou o engasgo agudo e a bola de pelo, e o padrão de tosse é recorrente, a sua mente deve ir direto para a principal vilã da pneumologia felina: a Asma Felina, que na verdade é a manifestação da Bronquite Alérgica Crônica.

Etiologia Multifatorial: Os Alérgenos que Inflamam o Brônquio

A asma felina é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas inferiores. Pense no brônquio do seu paciente como uma estrada que, em vez de ser larga e livre, fica estreita e irritada. Por quê? Na maioria esmagadora das vezes, a causa é uma hipersensibilidade a alérgenos ambientais. Você não está lidando com um problema de infecção de imediato, mas com uma reação exagerada do sistema imune a coisas que estão no ar.

Os gatilhos são onipresentes no ambiente doméstico. Estamos falando de poeira, ácaros, pólen, fungos, e, o mais insidioso, a fumaça de cigarro ou de lareiras. Não se esqueça dos aerossóis de perfumes, desodorantes e, pasme, a areia sanitária com fragrância ou com muito pó. O uso de certas areias é um crime respiratório para alguns gatos geneticamente predispostos. O seu papel é educar o tutor para que ele se torne um detetive ambiental, eliminando esses irritantes. Se você não controlar o ambiente, nenhum tratamento farmacológico será totalmente eficaz. É um manejo holístico que começa em casa, no controle do microclima do seu paciente.

O Eosinófilo em Ação: Entendendo a Fisiopatogenia da Hipersensibilidade

Aqui entra a patologia pura. A asma felina é classificada como uma reação de hipersensibilidade do tipo I, mediada por IgE. Quando o gato inala o alérgeno, o sistema imune dele, que já está em estado de alerta, recruta uma célula de defesa especial: o eosinófilo. Essas células liberam mediadores inflamatórios, como a histamina, que provocam três eventos desastrosos no brônquio:

  1. Broncoconstrição: A musculatura lisa da parede brônquica se contrai, estreitando a passagem do ar.
  2. Edema da Mucosa: A parede interna do brônquio incha, estreitando ainda mais.
  3. Hipersecreção de Muco: O pulmão produz uma quantidade excessiva de muco espesso, que se acumula e obstrui.

O resultado dessa tríade é o estreitamento das vias aéreas inferiores, causando a tosse e o chiado (sibilo) característico. Em casos graves, isso leva ao broncoespasmo, que é a crise aguda de falta de ar. O que diferencia a asma da bronquite crônica é justamente esse caráter reativo e reversível da broncoconstrição, mas na prática clínica, a distinção é complexa, e as duas condições são frequentemente manejadas de forma semelhante. Você está lidando com uma inflamação que remodela o pulmão ao longo do tempo, e, se não for controlada, o dano pode se tornar permanente. Esse conhecimento de fisiopatogenia permite que você explique ao tutor por que estamos usando broncodilatadores (para abrir a passagem) e corticosteroides (para combater a inflamação eosinofílica).

Sinais Clínicos e Padrões Radiográficos: O Mapa do Pulmão Inflamado

Os sinais clínicos da asma variam muito. Você pode ter desde uma tosse intermitente, que o tutor só nota de vez em quando, até a crise aguda com dispneia e respiração de boca aberta, que é uma emergência. Um sinal de alerta que você deve procurar é a taquipneia (respiração acelerada) e a intolerância ao exercício — seu gato está menos ativo? Corre menos? Pode ser asma leve.

A radiografia torácica é uma ferramenta diagnóstica essencial, a nossa “bússola” pulmonar. Em um gato asmático, você vai procurar o que chamamos de padrão bronquial ou broncointersticial. Isso é um achado que parece um “donut” ou um “trilho de trem” na radiografia. Esses padrões indicam espessamento da parede brônquica (o “donut”) e inflamação circundante. É claro, a radiografia é mais uma peça do quebra-cabeça, e não o padrão ouro. O diagnóstico de asma é, muitas vezes, de exclusão, depois que você descartou outras causas, como os parasitas pulmonares, que veremos a seguir.

Outras Etiologias da Tosse Felina: Um Diagnóstico Diferencial Vasto

Como todo bom professor, eu preciso lembrá-lo que a Asma é a causa mais comum, mas não a única. O bom clínico não se contenta com o primeiro diagnóstico, mas sim com o mais correto.

Infecções e Agentes Patogênicos: Dos Vírus às Zoonoses Pulmonares

As Infecções do Trato Respiratório Superior (ITRS), frequentemente causadas pelo Herpesvírus Felino (FHV-1) ou Calicivírus Felino (FCV) – a famosa “Gripe Felina” – causam espirros, secreção nasal e ocular, e, em alguns casos, podem levar a uma traqueíte ou bronquite com tosse. A tosse aqui costuma ser mais aguda e acompanhada de outros sinais sistêmicos (febre, letargia).

No entanto, a tosse crônica pode esconder vilões mais sérios. Não podemos esquecer dos parasitas pulmonares, como o Aelurostrongylus abstrusus, o famoso “verme pulmonar do gato”. Esses nematoides se alojam nos brônquios e bronquíolos, causando uma inflamação eosinofílica que mimetiza perfeitamente a asma. Você precisa de um exame de fezes específico (Baermann) para achá-los. Outras infecções, como a pneumonia bacteriana ou fúngica (mais raras, mas sérias), também causam tosse produtiva e úmida, diferentemente da tosse seca da asma.

Para você, o takeaway é: sempre faça o diagnóstico diferencial. Se a tosse não responde ao tratamento inicial para asma, você tem que procurar o Aelurostrongylus ou outras causas menos óbvias.

Neoplasias e Cardiopatias: Causas Raras, Mas de Alto Impacto

Aqui está uma diferença crucial entre a pneumologia canina e a felina. Em cães, a tosse é o sintoma clássico da insuficiência cardíaca congestiva, mas em gatos, isso é raro. O gato com Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH), a cardiopatia felina mais comum, geralmente entra em edema pulmonar (acúmulo de líquido) e apresenta dispneia (dificuldade de respirar) e taquipneia (respiração acelerada), mas raramente tosse. Se o seu gato com cardiopatia está tossindo, procure uma doença pulmonar primária concomitante!

As neoplasias pulmonares (câncer) são menos comuns, mas geralmente afetam gatos mais velhos. A tosse pode ser um sintoma persistente e não responsivo ao tratamento padrão. O Raio-X aqui é fundamental, pois pode revelar massas pulmonares ou mediastinais. Lembre-se, o pulmão do gato é um mundo complexo, e você precisa de todas as ferramentas para mapeá-lo.

Fatores Ambientais e Iatrogênicos: O Papel do Tutor na Prevenção

Já falamos dos alérgenos, mas vamos reforçar a responsabilidade do tutor. A iatrogenia (doença causada pelo tratamento ou intervenção médica) ou o manejo inadequado podem piorar o quadro. O estresse crônico por si só pode ser um gatilho para crises asmáticas. O gato é um animal de rotina, e qualquer mudança brusca, como a chegada de um novo pet ou a reforma da casa, pode desencadear uma crise.

Outro ponto que frequentemente é ignorado: o peso. Gatos obesos têm maior dificuldade respiratória e uma mecânica pulmonar prejudicada, o que agrava qualquer condição de tosse ou dispneia. Mantenha o seu paciente com escore de condição corporal (ECC) ideal. O tratamento, muitas vezes, começa com o manejo nutricional e de peso, não com a prescrição de um novo medicamento. Você está vendo como o manejo do paciente felino exige que você olhe para o animal como um todo, e não apenas para o sintoma?

Protocolo Diagnóstico na Clínica de Felinos: Da Anamnese aos Exames de Imagem

Chegou o momento de colocar a mão na massa e desenhar o protocolo. Nunca se esqueça que o paciente felino é um desafio, e o estresse da manipulação pode ser fatal em um quadro respiratório agudo.

Anamnese Detalhada e Exame Físico Focado: A Base de Tudo

Se o gato está em crise respiratória, o exame físico deve ser mínimo. Não o estresse. Coloque-o em uma câmara de oxigênio e faça a avaliação à distância. Se ele estiver estável, a anamnese é a sua principal aliada. Você precisa saber:

  • Padrão da tosse: Frequência, duração, se é seca ou úmida, se ocorre em repouso, durante o sono ou após o exercício.
  • Ambiente: Uso de fumo, produtos de limpeza, tipo de areia sanitária, ventilação da casa.
  • Histórico de viagens e vermifugação: Para descartar parasitas.
  • Sinais associados: Espirros, corrimento nasal, perda de peso, alteração de apetite.

No exame físico, o foco é a ausculta torácica, procurando sibilos (chiados) e crepitações (ruídos de “velcro”). Lembre-se, um pulmão asmático pode ter uma ausculta normal entre as crises. Por isso, a história contada pelo tutor é tão crucial quanto o que você ouve.

A Importância dos Exames Complementares: Hemograma, Sorologia e Lavado Traqueal

Para fechar o diagnóstico, você vai precisar de exames. O Raio-X torácico (em três projeções) é o padrão inicial para avaliar o padrão pulmonar e o tamanho do coração. Ele ajuda a descartar efusão pleural, neoplasia e, se o padrão for bronquial ou broncointersticial, aponta fortemente para a asma.

O Hemograma Completo pode revelar uma eosinofilia (aumento do número de eosinófilos no sangue), o que reforça a suspeita de asma ou parasitismo. Testes sorológicos para FIV/FELV e, se houver suspeita, o exame de fezes de Baermann para Aelurostrongylus são obrigatórios no seu protocolo.

O padrão ouro para o diagnóstico definitivo da asma é o Lavado Traqueal (LT) ou o Lavado Broncoalveolar (LBA). Esses procedimentos, feitos sob sedação ou anestesia, permitem coletar amostras das células e fluidos dos brônquios. Se o resultado for um predomínio de eosinófilos (geralmente acima de 25% na citologia do LBA), você tem a confirmação da sua bronquite eosinofílica/asma felina. Lembre-se, esses exames não são isentos de risco, e o gato respiratório é um paciente de alto risco anestésico. O seu julgamento clínico é vital.

Tratamento e Manejo a Longo Prazo: O Olhar Crônico e Paliativo

A asma felina é uma doença crônica, sem cura. O tratamento visa o controle da inflamação e a dilatação dos brônquios. A base terapêutica é a combinação de:

  1. Corticosteroides: Para reduzir a inflamação (geralmente Prednisolona oral, mas a via inalatória é a mais indicada, como veremos).
  2. Broncodilatadores: Para relaxar a musculatura brônquica e abrir a passagem de ar (Beta-agonistas, como o Terbutalina, ou Metilxantinas, como a Teofilina).

O manejo é para a vida toda. O tutor precisa entender que, assim como no humano, haverá períodos de remissão e de crise. O objetivo é manter a qualidade de vida do paciente e minimizar as exacerbações.

CaracterísticaProduto A: Corticoide Oral (Prednisolona)Produto B: Corticoide Inalatório (Fluticasona c/ Câmera Espaçadora)Produto C: Broncodilatador Oral (Terbutalina)
Via de AdministraçãoOral (Comprimido)Inalatória (Spray dosimetrado com máscara e espaçador)Oral (Comprimido/Líquido)
Principal VantagemBaixo custo e alta eficácia anti-inflamatória sistêmica inicial.Concentração máxima no pulmão e mínimo efeito colateral sistêmico (sem os riscos de diabetes ou Cushing).Fácil administração e útil em crises agudas como resgate.
Principal DesvantagemAlto risco de efeitos colaterais sistêmicos a longo prazo (diabetes, atrofia adrenal, imunossupressão).Requer adaptação e treinamento do gato (e do tutor) para usar a máscara. Custo inicial mais alto do equipamento.Não trata a inflamação subjacente. Uso isolado pode mascarar o agravamento da asma.
Indicação Clínica IdealInício do tratamento para controle rápido da inflamação em casos graves, ou quando a via inalatória é impossível.Terapia de manutenção a longo prazo para o controle crônico da doença.Resgate em crise aguda (uso pontual) ou como coadjuvante na terapia de manutenção.

Você precisa fazer o tutor entender: o corticoide oral funciona, mas destrói o corpo do gato a longo prazo, com risco de induzir diabetes. O corticoide inalatório (Produto B) é o gold standard da medicina felina, pois atua localmente e tem pouquíssimos efeitos sistêmicos. Invista tempo na educação do tutor sobre o espaçador e a máscara. É a melhor chance que o seu paciente tem de ter uma vida longa e de qualidade.

Inovação e Terapia de Suporte no Paciente Respiratório

O tratamento da asma e da bronquite crônica vai muito além da prescrição de remédios.

O Papel da Inalação e Nebulização: Levando o Remédio ao Local Certo

Se você já usou um inalador na vida, sabe a diferença que faz. A terapia inalatória é uma revolução na medicina felina. Ela permite que a droga (especialmente o corticoide, como a Fluticasona, ou broncodilatadores) chegue diretamente nas vias aéreas, na dose certa, sem ter que ser absorvida pelo sistema digestivo. O uso da câmara espaçadora (como a Aerokat ou similares) é crucial, pois transforma o aerossol do spray em partículas finas que o gato consegue inalar profundamente.

Quando você treina um tutor para fazer isso, você está dando a ele o poder de gerenciar a doença do gato em casa de forma minimamente invasiva e altamente eficaz. É um ato de cuidado que reforça o vínculo e melhora o prognóstico. A nebulização com soro fisiológico também é uma ótima terapia de suporte, ajudando a fluidificar o muco e a melhorar a hidratação da mucosa, o que alivia a tosse.

Manejo Ambiental Estratégico: Reduzindo o Estresse e os Gatilhos

Voltar ao básico é sempre a jogada de mestre. O manejo ambiental é 50% do tratamento. Você precisa ser muito prático e diretivo com o tutor:

  • Elimine a Fumaça: Não fumar dentro de casa. Ponto final.
  • Controle de Poeira e Ácaros: Use filtros HEPA (High-Efficiency Particulate Air) no ar-condicionado ou em purificadores. Lave as caminhas e cobertores com frequência.
  • Areia Sanitária: Mude para areia de sílica ou vegetal, sem cheiro e com baixa produção de pó.
  • Produtos de Limpeza: Evite produtos com cheiro forte (amônia, cloro, perfumes). Use soluções mais neutras.

Você está prescrevendo um “detox” ambiental para o gato. Explique ao tutor que, para o pulmão do animal se acalmar, o ar que ele respira tem que ser o mais limpo possível.

Monitoramento Contínuo e Prognóstico: Vivendo Bem com a Doença Crônica

O tratamento da asma é um ajuste fino e contínuo. Você precisa ensinar o tutor a monitorar a frequência respiratória em repouso (FRR). Se o gato estiver respirando mais de 40 incursões por minuto (ipm) quando está dormindo ou relaxado, ele está em taquipneia, e o tratamento pode precisar de um ajuste. Isso é um insight prático de ouro, pois transforma o tutor em um colaborador ativo do tratamento.

O prognóstico para a asma felina é favorável com o tratamento adequado. É uma doença crônica, sim, mas que, na maioria dos casos, permite que o gato tenha uma vida plena e normal. Você está dando a esse tutor a certeza de que a ciência veterinária evoluiu para manejar esses casos complexos, e que a dedicação dele fará toda a diferença. Seu papel é guiar esse processo com a firmeza de um professor e a empatia de alguém que entende a profunda conexão entre o humano e o felino.

O gato que tosse ou engasga merece a nossa atenção máxima. Use a postura e o som para o seu primeiro diagnóstico, elimine os parasitas e as infecções, e trate a inflamação brônquica com a combinação certa de drogas e manejo ambiental.


Próximo Passo: Se você precisar de um aprofundamento em algum dos tópicos, como as doses de medicação ou um guia visual para a Manobra de Heimlich em felinos, é só me dizer!

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